segunda-feira, 2 de abril de 2018

KARDEC E O PÚBLICO



A Revista Espírita, elaborada, mantida e financiada por Allan Kardec, com seus próprios recursos, a partir de 1858, era uma forma de o codificador estar em contato com o público que tomava conhecimento da Doutrina Espírita, a partir de O Livro dos Espíritos, publicado um ano antes.
Nessa revista ele publicava algumas cartas recebidas de diversos lugares do mundo com depoimentos de fenômenos que viriam a corroborar os preceitos doutrinários do Espiritismo.
Em uma dessas correspondências ele recebeu uma importante consideração de pessoa conhecida da Europa, transcrita a seguir:

Bruxelles, 15 de junho de 1858

Meu caro senhor Kardec
Recebi e li com a avidez vossa Revista Espírita e recomendei aos meus amigos, não a simples leitura, mas o estudo aprofundado de vosso O Livro dos Espíritos. Muito lamento por minhas preocupações físicas não me deixarem tempo para os estudos metafísicos; mas eu as empurrei bastante longe por sentir o quanto estás perto da verdade absoluta, sobretudo quando vejo a coincidência perfeita que existe entre as respostas que me foram dadas e as vossas. Mesmo aqueles que vos atribuem pessoalmente a redação dos vossos escritos, estão estupefatos com a profundidade e a lógica que neles encontram. Teríeis vos elevado, de repente, ao nível de Sócrates e de Platão pela moral e a filosofia estética; quanto a mim, que conheço o fenômeno e vossa lealdade, não duvido da exatidão das explicações que vos são dadas, e abjuro todas as ideias que publiquei a esse respeito, quando não acreditava nisso ver, com o senhor Babinet, senão fenômenos físicos, ou charlatanice indigna da atenção dos sábios.
Não vos desencorajeis, tanto quanto eu, com a indiferença de vossos contemporâneos; o que está escrito, está escrito; o que foi semeado germinará. A ideia de que a vida não é senão uma purificação de almas, uma prova e uma expiação é grande, consoladora, progressista e natural. Aqueles que a ela se ligam são felizes em todas as posições; em lugar de se lamentarem pelos males físicos e morais que os oprimem, devem com eles se alegrarem, ou ao menos os suportar com uma resignação cristã.
Para ser feliz, fuja do prazer:
Do filósofo é a divisa; o esforço que se faz para o agarrar, custa mais do que a mercadoria; mas ele vem a todos nós cedo ou tarde, sob a forma de uma surpresa; é um terno, no jogo do acaso, que vale dez mil vezes a aposta.
Conto logo atravessar Paris, onde tenho tantos amigos para ver e tantas coisas a fazer, mas deixarei tudo para tentar ir vos apertar a mão. 
Jobard (Diretor do Museu Real da Indústria).

E Kardec comenta logo abaixo:
“Uma adesão tão limpa e tão franca, da parte de um homem do valor do senhor Jobard é, sem contradita, uma preciosa conquista à qual aplaudirão todos os partidários da Doutrina Espírita; todavia, na nossa opinião, aderir é pouca coisa; mas reconhecer, abertamente, que se enganou, abjurar ideias anteriores que se publicaram, e isso sem pressão e sem interesse, unicamente porque a verdade abriu caminho, está aí o que se pode chamara verdadeira coragem de sua opinião, sobretudo quando se tem um nome popular. Agir assim é próprio dos grandes caracteres, os únicos que sabem se colocar acima dos preconceitos.
Os elogios contidos na carta do senhor Jobard nos teriam impedido de a publicar se fossem dirigidos a nós pessoalmente; mas, como ele reconhece em nosso trabalho a obra dos Espíritos dos quais não fomos senão muito modesto intérprete, todo mérito lhes pertence e nossa modéstia nada tem a sofrer com uma comparação que não prova senão uma coisa: que esse livro não pode ter sido ditado senão por Espíritos de uma ordem superior”.

No mês em que o advento do Espiritismo completa 161 anos de existência, é importante essa reflexão, tanto do leitor das obras kardequianas, quanto a do próprio A. Kardec.
Como disse o codificador, não basta aderir ao Espiritismo, mas reconhecer a verdade que nele se encerra e deixar ideias, conceitos e preconceitos para trás.
Ao escolher o Espiritismo como religião, como filosofia de vida e como a sua verdade deve, o Espírita, esvaziar-se de ideias trazidas até aqui e deixar-se lavar em água cristalina, preenchendo-se todo, no estudo, na apreensão do novo e na mudança de conduta que o Espiritismo proporciona para contribuir com a transformação social que se faz premente.
Viva Kardec! Em forma de respeito e consideração, através do estudo de seu legado. 
Viva o Espiritismo! Na vivência de seus postulados de cada dia.











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