O PASSE NA VISÃO DE HERCULANO PIRES
De acordo com Herculano Pires, o passe espírita é
simplesmente a imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus, como se vê nos
Evangelhos. Origina-se das práticas de cura do cristianismo primitivo, marcado
por rituais, como o sopro, a fricção das mãos, ou mesmo, a aplicação de saliva
e barro no doente.
O autor alerta para fato de Jesus agir sempre de maneira
anti-ritual, sugerindo que as descrições, feitas entre quarenta e oitenta anos
após sua morte, terem sido influenciadas pelos costumes religiosos da época. Até
porque a proposta de Jesus era justamente afastar os homens das superstições
vigentes à época. As incoerências históricas podem ter vindo dos evangelistas,
e não de Jesus.
O passe espírita não comporta as encenações e gesticulações
em que hoje o envolveram alguns teóricos improvisados, geralmente ligados a
antigas correntes espiritualistas de origem mágica ou feiticista.
Herculano é enfático ao afirmar que todo o poder e toda a
eficiência do passe espírita dependem do Espírito e não da matéria, da
assistência espiritual do médium passista e não dele mesmo.
Palavras do autor: Espíritos realmente elevados não aprovam,
nem ensinam práticas e técnicas do passe, que não sejam a prece e a imposição
de mãos. Toda a beleza espiritual do passe espírita, que provém da fé racional
no poder espiritual, desaparece ante às ginásticas pretensiosas e ridículas gesticulações.
O autor reforça que a forma de se erguer as mãos para o alto
para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos,
pelo paciente, para melhor assimilação fluídica, braços e pernas descruzados
para não impedir a livre passagem dos fluidos, dentre outras práticas, só
servem para ridicularizar o passe, o passista e o paciente. A formação das
chamadas pilhas mediúnicas, com o
ajuntamento de médiuns em torno do paciente, as correntes de mãos dadas
(correntes magnéticas) ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por
Kardec – nada mais são do que resíduos do mesmerismo antigo, inúteis,
supersticiosos e ridicularizantes.
Herculano classifica como tolices essas práticas, que seriam
resultantes do apego humano às formas de atividades materiais. Segundo ele,
queremos dirigir, orientar os fluidos espirituais como se fossem correntes elétricas
e manipulá-los como se a sua aplicação dependesse de nós.
O autor lembra também que o passista espírita consciente,
conhecedor da doutrina e suficientemente humilde para compreender que ele pouco
sabe a respeito dos fluidos espirituais – e o que pensa saber é simples
pretensão orgulhosa – limita-se à função mediúnica de intermediário. Se pede a
assistência dos Espíritos, com que direito se coloca depois no lugar deles?
Muitas vezes os Espíritos recomendam que não se faça movimentos com as mãos e os
braços para não atrapalhar os passes.
O passe espírita é PRECE, CONCENTRAÇÃO e DOAÇÃO. Quem
reconhece que não pode dar de si mesmo, suplica a doação dos Espíritos. São
eles que socorrem aqueles por quem pedimos, não nós, que em tudo dependemos da
assistência espiritual.
Palavras de Herculano Pires, eminente pesquisador espírita
das décadas de 1960 e 1970 e que, segundo observou Emmanuel (mentor de Chico
Xavier) foi o “metro que melhor mediu Kardec”. Bastante propícias essas
observações para os dias de hoje, quando vemos tantas ‘novidades’ sendo
incorporadas aos Centros Espíritas, de forma desnecessária.
REFERÊNCIA
PIRES, J. Herculano Obsessão, O Passe, A Doutrinação 5. ed.
São Paulo: Paideia, 1992.