Como homenagear esse
espírita exemplar no dia do seu aniversário? O que se pode falar que já não
tenha sido falado, escrito e estudado sobre esse homem que revolucionou
Sacramento em Minas gerais?
Talvez para os Espíritas
interesse mais a sua conversão ou o seu encontro com o Espiritismo.
Lembrar o episódio ocorrido
em 1903 quando o seu tio, Sinhô Mariano em visita à família foi colocado para
dormir no mesmo quarto de Eurípedes que, mesmo ainda jovem, possuía uma cultura
filosófica e teológica que lhe propiciava bons argumentos numa discussão sobre
espiritismo. Ele argumentava que essa doutrina era obra do demônio e não
possuía consistência teológica.
Sinhô Mariano, ao contrário,
possuía pouca cultura, não lhe restando argumentos consistentes para discutir
com o sobrinho. Assim, provavelmente inspirado pela espiritualidade, resolve
dar-lhe um livro espírita para ler, o livro Depois da Morte escrito por Léon
Denis.
Eurípedes passa a noite toda
“devorando” o livro. Ao amanhecer já tinha mudado a sua impressão sobre o
espiritismo.
Esse é o ponto para a
reflexão. Que emoção! Que descoberta! Que renascimento se deu a partir desse
dia! Que momento luminoso esse!
O que essa obra deve ter despertado
no coração, ou melhor, no Espírito desse homem? Assim como Saulo de Tarso, a
luz revelou a verdade e a libertação se fez. E quando isso acontece, ninguém
consegue ser mais o mesmo. Assim foi com Eurípedes Barsanulfo e também com
muitos espíritas quando atenderam ao chamado.
Ao longo da semana seu tio
lhe apresenta outras obras e periódicos e assim, aos poucos, Eurípedes vai se
envolvendo cada vez mais com o Espiritismo.
No ano seguinte na companhia
de um amigo Eurípedes vai assistir a algumas sessões espíritas na fazenda de Santa Maria,
reforçando ainda mais sua adesão ao espiritismo.
Não tinha mais dúvidas.
Diante dos fatos, assume-se como espírita, rompe com seu trabalho na comunidade
católica, entrega a presidência da Sociedade S. Vicente de Paulo, desligando-se
dela definitivamente.
Começa então a enfrentar as
críticas das pessoas, muitas delas mordazes. Diziam na cidade que o professor
tinha ficado louco. Enfrentou resistência nas ruas, no trabalho, na família e
na igreja.
Os professores do colégio que
dirigia abandonaram suas funções, o proprietário pediu o imóvel, todos estavam
contra ele.
Mesmo assim como espírita
convicto, não esmoreceu. Fundou o Centro Espírita “Esperança e Caridade” em
1905 para que se realizassem estudos sobre espiritismo e serviços aos doentes
através da homeopatia, com receituário mediúnico.
Questionado sobre o fato de
o espiritismo ser religião argumentava que sim, era uma religião sem dogmas,
sem hierarquias, sendo possível identificar seu aspecto religioso. Segundo
Eurípedes “a religião é a faculdade ou o sentimento que nos leva a crer na
existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal. O Espiritismo
proclama a existência de Deus e reconhece o infinito das Suas perfeições”.
Barsanulfo reabre o colégio
em sua própria casa e coloca o nome de Colégio Allan Kardec. O colégio existe
até hoje.
O que aprendemos com
Eurípedes Barsanulfo?
Dentre outras coisas pode-se
aprender que ser espírita é muito mais do que ler, estudar e frequentar um centro
Espírita. Ser Espírita é, em primeiro lugar, não ter receio de se dizer
Espírita, adepto da Doutrina Espírita, mesmo sabendo que os narizes serão
torcidos e que os comentários serão os mais desairosos.
Ser Espírita é divulgar o
Espiritismo mais em atos do que em discursos e palavras. É teoria e prática ao
mesmo tempo. Estuda-se o Espiritismo, o Evangelho de Jesus e sai a campo
praticando a Caridade.
Aprender com aqueles que vêm
antes e realizam a terraplenagem no solo árido que encontram para que hoje, cada
um que se diz Espírita possa plantar a semente dessa Doutrina Consoladora e
Esclarecedora, regá-la diariamente para colher os frutos quando se tiver
crescido o suficiente para alcançá-los.
Isso é possível, isso é o
esperado, isso compete a cada um. Deus abençoe e ampare a todos nessa tomada de
decisão.
Gratidão a Eurípedes
Barsanulfo por ter vindo, exemplificado e ainda continuar com todos os
Espíritas na luta pelo bem, pela caridade, pela paz e pelo amor.
Salve Eurípedes hoje e
sempre.
REFERÊNCIA
BIGHETO, A. Cesar Eurípedes Barsanulfo, um educador de
vanguarda na Primeira República. Bragança Paulista, SP: Ed. Comenius, 2006.