Falar sobre mediunidade é um
tema que não se esgota e, para isso, nada melhor do que trazer para a discussão
a grande médium brasileira Yvonne A. Pereira e seu guia-mor Adolfo Bezerra de
Menezes, que, juntos, escreveram o célebre livro: Recordações da Mediunidade.
A médium em questão solicitou
autorização da Espiritualidade superior para escrever o livro e foi orientada
que escrevesse sobre si mesma e tudo o que passou para ser um obediente
instrumento mediúnico; por isso o livro diz respeito às confidências de uma
médium ao final de sua jornada.
Recordações da mediunidade
traz o amargor das lágrimas que chorou durante suas provações, as humilhações
que a acompanharam em toda a sua existência e o quanto a Doutrina Espírita a
consolou e remediou, nas palavras da autora.
Em todo o relato de suas
experiências a médium procurou embasar-se nos ensinamentos que os Espíritos
revelaram a Allan Kardec, pois considerava-se um testemunho vivo do valor do
Espiritismo na recuperação de uma alma para si mesma e para Deus, chegando a
afirmar que, sem essa Doutrina, que conheceu desde o nascimento, não teria
vencido suas lutas.
Sua faculdade mediúnica se
desdobrou em todos os setores da prática espírita, suportando dores morais,
ininterruptamente renovadas durante o longo exercício da mediunidade.
A médium sofreu um processo de
catalepsia ou letargia, melhor dizendo, quando tinha 29 dias de vida, sendo
quase enterrada viva, não fossem as preces de sua mãe à Maria, mãe de Jesus.
Assim, ela começa a escrever o livro explicando esse processo.
“A letargia e a catalepsia
derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do
movimento, por uma causa fisiológica ainda inexplicada”. (PEREIRA, 2009, p. 12)
Na letargia a suspensão das
forças vitais é geral e dá ao corpo a aparência de morte; na catalepsia pode
atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo.
No livro em questão, Bezerra
de Menezes traz uma longa explicação a respeito do processo.
Segundo esse benfeitor, ao se
estudar o processo tanto da catalepsia, quanto da letargia, a ciência psíquica
e a Doutrina Espírita podem tirar grandes ensinamentos e revelações em torno da
alma humana, podendo, inclusive, curá-las ou mesmo evitá-las, embora não seja
objeto de estudo das ciências médicas.
Bezerra de Menezes afirma que
ambas, catalepsia e letargia, não são doenças, mas uma faculdade mediúnica,
ainda incompreendida. E por não serem compreendidas e estudadas é que,
comumente, são exploradas pela mistificação e pela obsessão de inimigos
invisíveis, degenerando para um estado mórbido do perispírito.
O que ocorre durante o
processo é uma neutralidade do fluido vital, resultando no estado de anestesia
geral ou parcial, quando a perda da sensibilidade faz com que se apresentem
todos os sintomas da morte.
Bezerra chama a atenção para o
fato de que, ao ser feito um tratamento psíquico adequado, essa faculdade
poderá fornecer aos estudiosos pesquisadores, um vasto campo de elucidação
científica-transcendental.
Em relação ao tratamento nas
Casas Espíritas, constata-se que o cultivo dessa mediunidade, proporcionando o
contacto das correntes vibratórias magnéticas constantes, e o suprimento das
forças vitais próprias dos fenômenos mediúnicos mais conhecidos, será possível
corrigir esse processo, podendo até, ser orientado para fins dignificantes a
bem da evolução do seu possuidor e da coletividade, alertou Dr. Bezerra.
Os passes e a intervenção
oculta dos mestres da Espiritualidade, têm evitado que a catalepsia e a
letargia se propaguem entre os homens com feição de calamidade. Um evento que
nada tem de novo, tendo em vista que no Evangelho é possível identificá-lo na
ressurreição de Lázaro (Jo,11:1-44), na filha de Jairo (Mc 5:21-43) e na viúva
de Naim (Lc 7:11-17).
O perispírito age como
reservatório de forças vitais e os laços magnéticos são os agentes
transmissores que suprem a organização física, se esse encontra-se
desequilibrado e as ligações, frágeis, mais facilmente o processo cataléptico
se instala.
“Enquanto o homem não se
integrar de boa mente na sua condição de ser divino, vibrando satisfatoriamente
no âmbito das expansões sublimes da Natureza, mecanicamente estará sujeito a
esse e demais distúrbios”. (PEREIRA, 2009, p.17)
A catalepsia e a letargia como
faculdades mediúnicas, não têm a ver com a inferioridade do indivíduo que a
possui. Sendo assim, as mesmas podem ser direcionadas para prestarem excelentes
serviços à causa do bem, tais como as demais faculdades mediúnicas. Porém,
tanto nas manifestações úteis, quanto nas prejudiciais, a mente, o pensamento e
a vontade do médium não estão isentas de responsabilidade.
Entendendo-se que o transe
mediúnico ocorre devido a um afastamento parcial do perispírito do encarnado, é
comum acontecer no período de repouso noturno, sem que o médium o perceba. No
entanto, existem encarnados que, senhor de suas próprias vibrações, poderá cair
em transe letárgico ou cataléptico, voluntariamente, alçar-se ao Espaço e
desfrutar do convívio dos amigos espirituais, dedicar-se a estudos profundos,
colaborar com o bem e depois voltar ao corpo carnal, reanimado e apto a
excelentes realizações.
Outrossim, homens que ainda
não atingiram tal mister, podem cair em transe, mas conviver com entidades
espirituais inferiores e retornar obsidiados, predispostos a maus atos e até
inclinados ao homicídio ou ao suicídio, causando um distúrbio vibratório.
Um alcoólatra, por exemplo,
poderá, segundo o autor espiritual, renascer propenso à catalepsia porque o
álcool lhe viciou as vibrações, anestesiando-as, o mesmo para usuários de
outras drogas, que são considerados suicidas involuntários, do outro lado.
Independente da causa, o
tratamento é o mesmo: a renovação mental, a qual pode influir poderosamente no
sistema de vibrações nervosas, sem esquecer que tudo isso faz parte de uma
expiação, sendo um efeito grave, por consequência de uma falta grave.
O fenômeno da letargia tem
ação benéfica muito mais no plano espiritual, trazendo o paciente, ao
despertar, intuições, instruções para serem aplicadas no plano terreno. São
orientações que ocorrem no plano espiritual que conduzem sábios e gênios a
concluírem o que foi programado em sua existência, uma pesquisa, um projeto,
uma missão, não se tratando de privilégios.
Provoca-se esse fenômeno sob
ação magnética, anestesiando as forças vibratórias até ao estado agudo, e
anulando os fluidos vitais, daí a morte aparente, por ter suspendio sua
sensibilidade e as correntes de comunicação com o corpo carnal.
Mesmo acontecendo de forma
espontânea, há um agente espiritual provocando-o, independentemente de sua
categoria, se elevada ou inferior, o que seria um processo de obsessão.
Se se tratar de obsessão é
necessário evangelizar o paciente, possibilitando sua transformação moral,
orientando-o sob as normas espíritas, até florescer nos campos mediúnicos.
É preciso observar, estudar e
analisar os fatos espíritas, aprofundando-se em torno dos fenômenos e
ensinamentos apresentados pela ciência transcendente, a ciência imortal, que
exige verdadeiras atenções do senso e da razão, segundo o venerável Bezerra de
Menezes.
Por mais que se leia a
respeito, o que realmente se conhece sobre mediunidade são seus efeitos, nada
se sabe onde é possível chegar no seu intricado mistério, exigindo constante
pesquisa de pessoas sérias e comprometidas com a causa Espírita.
Assim começa a primeira parte
desse livro extraordinário “Recordações da Mediunidade”, escrito por uma médium
não menos extraordinária, Yvonne do Amaral Pereira. Bem-vindo (a) ao primeiro
capítulo. Boa leitura.
REFERÊNCIA
PEREIRA, Y. A. Recordações
da Mediunidade 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.