quarta-feira, 5 de agosto de 2020

ESTÊVÃO


A história de Estêvão no Evangelho começa com um diálogo entre os discípulos de Jesus que continuaram seu trabalho atendendo aos mais necessitados a caminho de Jerusalém.
“Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus para servir às mesas. Irmãos, selecionai, dentre vós, sete varões atestados, cheio de espírito e sabedoria, os quais constituiremos sobre esta necessidade (...). e escolheram Estêvão, varão cheio de fé e do Espírito Santo, dentre outros, os quais se colocaram de pé diante dos apóstolos que, orando, lhes impuseram as mãos. (At, 6:2, 3, 5, 6 e 7)
A partir dessa escolha começa a história de Estêvão, figura emblemática do Evangelho. Mais a frente o evangelista Lucas, redator desse livro Atos dos Apóstolos, vai dizer que Estêvão era “cheio de graça e de poder, operava prodígios e grandes sinais entre o povo” (At, 6:8). Quando alguns da sinagoga se punham a debater com ele, sucumbiam frente a alguém com tanta sabedoria e verdade. Como soi acontecer com aqueles que pregam a verdade a quem não está preparado para escutá-la, acabou preso, vítima de calúnia de blasfemador contra Moisés e contra Deus. Frente aos anciãos e escribas do Sinédrio fora acusado formalmente. Sua presença na principal casa religiosa da cidade magnetizou todos os presentes: “Todos os membros do Sinédrio com os olhos fixos nele, tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo”. (At, 6:15).

Sinédrio era um concílio supremo que regia as questões religiosas dos judeus, formado por cerca de 70 membros (ZIBORDI, 2018). Nesse concílio haviam representantes tanto dos saduceus, quanto dos fariseus. Era constituído do sumo sacerdote, e de antigos sumos sacerdotes, de membros de suas famílias, de chefes das tribos ou das familias, que eram chamados de anciãos, e dos escribas - os doutores da lei. (COLEMAN apud ZIBORDI).
Para sua defesa Estêvão apresenta um discurso (At, 7:1-55) belíssimo, trazendo toda a história dos hebreus desde Abraão e terminando na vinda do Messias em Jesus de Nazaré. Nesse momento “arrastando-o para fora da cidade, começaram a apredrejá-lo. As testemunhas depuseram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo” (At, 7:58-59).
Assim termina a passagem rápida de Estêvão pelo evangelho dos Atos dos Apóstolos. No entanto, Emmanuel, pelas mãos abençoadas de Chico Xavier lança em 1941 a obra Paulo e Estêvão oportunizando aos leitores conhecer um pouco mais da vida dessa figura emblemática do cristianismo, trazendo promenores que elucidam a importância desse Espírito na implantação do Evangelho de Jesus na Terra.
Diz Emmanuel que a casa dos Apóstolos em Jerusalém se chamava “Casa do Caminho”, pois situava-se à beira do caminho que leva à cidade santa. Foi nessa casa que Estêvão começou suas pregações falando a respeito do Nazareno, difundindo entre os doentes e indigentes de Jerusalém os mais santos consolos. Sua palavra era um alento aos idosos desamparados e desesperançados, que encontravam ânimo e vontade de viver sob a influência de sua palavra inspirada na fonte divina do Evangelho. Todos queriam estar próximos a Estêvão e sentir a vibração boa em sua presença carinhosa e fraterna.
Eis um grande ensinamento para os dias de hoje: ser presença que acolhe, carinhosa e fraterna, ser um presente para o outro e envolvê-lo com palavras reconfortantes originárias do Evangelho do Cristo e com a aura iluminada do bem. Palavras magnetizadas com amor, curam enfermidades do corpo e do Espírito.
Estêvão, segundo o autor espiritual, foi ficando famoso na cidade de Jerusalém. Com sua fé ardente e pura apresentava à multidão Jesus como Salvador, comentando sobre sua vida com seu verbo inflamado de luz. Os próprios apóstolos que caminharam com Jesus ficavam admirados com suas inspiradas pregações. Um jovem que não conhecera Jesus em vida, mas que O trazia em seu coração e sentia Sua presença inspirando-o.
“Éramos escravos das imposições pelos raciocínios, mas hoje somos livres pelo Evangelho do Cristo Jesus”, dizia Estêvão aos aleijados, idosos, órfãos e doentes presentes no recinto também humilde da Casa do Caminho.
Esse Jesus que atendendo as promessas dos profetas “veio até o antro de nossas dores amargas e justas, para iluminar a noite de nossas almas impenitentes”.
A solução de Jesus para os problemas da criatura humana é o amor que redime todos os seres e purifica os corações, livrando-os do mal. Moisés é comparado a uma porta, cuja chave é o próprio Cristo.
Como israelita obediente às leis de Moisés alerta seu povo dizendo: muitos de nossa raça hão esperado um príncipe dominador, que penetrasse em triunfo a cidade santa, com os troféus sangrentos de uma batalha de ruína e morte; que nos fizesse empunhar um cetro odioso de força e tirania.
O reino do Cristo é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de Deus.
Seus discípulos amados virão de todos os quadrantes. Fora de suas luzes haverá sempre tempestade para o viajor vacilante da Terra que, sem o Cristo, cairá vencido nas batalhas infrutuosas e destruidoras das melhores energias do coração. Somente o seu Evangelho confere paz e liberdade. É o tesouro do mundo. Nele os justos encontrarão triunfo, os infortunados o consolo, os tristes bom ânimo e os pecadores a senda redentora dos resgates misericordiosos.
Estêvão conclamava a todos a se banquetearem na mesa celestial, provar do alimento eterno da alegria e da vida, beber o néctar reconfortante da alma, diluído nos perfumes do amor imortal. “O Cristo é a substância da nossa liberdade”. O Evangelho é a resposta aos apelos dos que seguiam as Leis de Moisés. “Moisés é o condutor; Cristo, o Salvador”.
A multidão ficava embevecida com as palavras que saíam emolduradas pela sensibilidade de Estêvão, cheias de verdade e estímulo da fé, inspirada nos mais puros sentimentos. Os apóstolos viam nele a figura de Jesus lhes endereçando a palavra mais uma vez.
Os doutores do Sinédrio, estudiosos das Leis de Moisés nas sinagogas não admitiam a soberania de Jesus e questionavam: - Que dizer de um Salvador que não conseguiu salvar-se a si mesmo? Como não evitou a humilhação da sentença infamante? A que Estêvão respondia: - bem se dizia que o Mestre chegaria ao mundo para confusão de muitos em Israel. O Filho de Deus trouxe a luz da verdade aos homens, ensinando-lhes a misteriosa beleza da vida, com o seu engrandecimento pela renúncia. Sua glória resumiu-se em amar-nos, como Deus nos ama. Por isso Ele ainda não foi compreedido. Não é possível aguardar-se um Salvador de acordo com os nossos propósitos inferiores. E continua Estêvão, segundo Emmanuel:- Que dizer de um messias que empunhasse o cetro no mundo, disputando com os princípios da iniquidade um galardão de triunfos sangrentos! Jesus executou sua tarefa entre os mais simples ou mais desventurados, em que, muitas vezes, se encontram as manifestações do Pai, que educa, por meio da esperança insatisfeita e das dores que trabalham do berço ao túmulo, a existência humana. O exemplo do Cristo está projetado na alma humana, como luz eterna. O Mestre deixou-se imolar transmitindo-nos o exemplo da rendenção pelo amor mais puro.
Nesse capítulo do livro Emmanuel apresenta Jesus como o Salvador, o Messias prometido pelos profetas no Antigo Testamento e tão bem internalizado em Estêvão, que estudava, desde a sua infância os livros sagrados, como judeu que era, israelita da tribo de Issacar.
Os doutores da lei enciumados, querendo destruir aquele brilhante orador que os estava ofuscando denunciam-no injustamente e conseguem levá-lo ao Sinédrio para ser julgado.
Diz Emmanuel que o recinto ficou lotado pois tratava-se do primeiro embate entre os sacerdotes e os homens piedosos do “Caminho”. Personalidades importantes do farisaísmo e representantes de várias sinagogas compareceram ao evento.
Questionado sobre quem era maior se Moisés, o legislador ou o galileu carpinteiro, serenamente Estêvão responderia: - Moisés é a justiça pela revelação, mas o Cristo é o amor vivo e permanente.
Como verdadeiro cristão enfrentando todo o tribunal Estêvão continua: - não desdenho Moisés, mas não posso deixar de proclamar a superioridade de Jesus Cristo. Podeis proferir anátemas contra mim; entretanto, é necessário que alguém coopere com o Salvador no restabelecimento da verdade acima de tudo. Aqui estou para fazê-lo e saberei pagar, pelo Mestre, o preço da mais pura fidelidade. O Profeta nazareno, com sua grandeza veio ao encontro de nossas ruínas morais, levantando-nos para Deus com o seu Evangelho de redenção. Mais enfático ainda, continuou: - aquele a quem chamais, ironicamente, o carpinteiro de Nazaré, foi amigo de todos os infelizes. Sua pregação não se limitou a expor princípios filosóficos. Antes, pela exemplificação, renovou nossos hábitos, reformou as ideias mais elevadas, com o selo do amor divino. Seu coração repartiu-se entre todos os homens, dentro do novo entendimento do amor que nos trouxe com o exemplo mais puro.
Profundamente ofendidos e sentindo-se inferiorizados pela brilhante exposição de um rapaz simples, do povo e tão sereno, os fariseus romperam em algazarras e gesticulavam com o propósito de atenuar a forte impressão causada pela fala de Estêvão e gritavam: - anátema! Apedrejamento já! Matemos a calúnia!
E a sentença não tardou: - analisando a peça condenatória e, considerando os graves insultos aqui apresentados, como juiz da causa rogo seja o réu lapidado.
No instante da execução foi questionado se estaria disposto a negar o carpinteiro nazaremo como o Messias, e o juiz teve como resposta de Estêvão: - Nada no mundo me fará renunciar à sua tutela divina! Morrer por Jesus significa uma glória, quando sabemos que Ele se imolou na cruz pela Humanidade inteira!
Apesar de toda agressividade da cena, relata Emmanuel que Estêvão mantinha uma paz espiritual desconhecida, porque todos aqueles sofrimentos pelos quais estava passando eram pelo Cristo. O olhar estava sereno, firme e destemido. Intimamente repetia o salmo 23 de Davi. As expressões dos Escritos Sagrados estavam-lhe no âmago do coração. Em seu último momento ainda teve forças para olhar para seu algoz e dizer ao Alto: - Senhor, não lhe imputes este pecado! Um último ato de indulgência.

Nesse instante o Espírito Estêvão sentia a presença do próprio Mestre Jesus e ouvia um coro de anjos cantando hosanas ao Senhor. O discípulo do Evangelho desfalecia na carne e resplandecia na espiritualidade junto aos Espíritos luminosos do Senhor. A semente estava plantada, regada com sangue e verdade, restava agora aguardar seu florescimento nos diferentes cantos da Terra.
REFERÊNCIAS:
DIAS, Haroldo D. O novo testamento trad. Haroldo Dutra Dias Brasília, DF:FEB, 2013.
XAVIER, F. C. (Emmanuel)Paulo e Estêvão: episódios históricos do Cristianismo primitivo 45. ed. Brasília, DF: FEB, 2017.
ZIBORDI, Ciro S. Estêvão o primeiro apologista do evangelho Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
 
 
 
 

 


sexta-feira, 8 de maio de 2020

DOENÇAS CONTEMPORÂNEAS


Antes de se falar em doença é necessário conceituar saúde. Para a OMS (Organização Mundial de Saúde) o conceito de saúde diz respeito ao completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.  
Joanna de Ângelis, sob a psicografia de Divaldo Franco, apresenta em seu livro “O Homem Integral” um capítulo sobre esse tema. Segundo a veneranda benfeitora a sociedade atual encontra-se enferma e, com isso, o indivíduo encontra-se perturbado e desajustado, desequilibrando o próprio grupo onde está inserido, engendrando um processo recursivo.
As enfermidades de ordem psicológica, como depressão e síndrome do pânico têm sido recorrentes, levando, inclusive, a ideações suicidas.
A autora atribui esses tipos de doenças contemporâneas ao homem moderno que teima em ignorar-se, comportando-se de forma desorganizada, deixando que a vida e os acontecimentos o conduzam, ao invés de tomar o leme da sua vida e se tornar sujeito dela, de forma consciente.
Ela chama a atenção sobre os comportamentos atuais como frutos de reencarnações passadas, quando o indivíduo pode ter se desorganizado interiormente. Sendo assim, nasce nessa atual existência com matrizes impressas em seu inconsciente. Essas matrizes podem se exteriorizar em dissociações e fragmentações da personalidade, alucinações, neuroses e psicoses.
Ela acrescenta, ainda, que o homem, ao perder seu referencial de existência, passou a procurar por sensações de prazer fugidio, posses, atribuindo o seu triunfo a condição de amealhar coisas materiais.
Joanna afirma, também, que a saúde psicológica decorre da autoconsciência, da libertação íntima e da visão equilibrada sobre a vida, as necessidades éticas, emocionais e humanas.
Na falta desse autoconhecimento, o homem tem buscado uma fuga para o consumismo, de uma forma neurótica, como uma maneira de disfarçar o seu desajustamento e enredando para situações patológicas.
Muitas vezes essa fuga diz respeito ao fato de o homem não conseguir aceitar o outro, porque, no fundo não está aceitando a si mesmo. Não se conhece, não se conduz convenientemente. Ele arroja-se a um espirito altamente competitivo e neurótico, com o objetivo de obter riquezas, ao invés de experimentar a cooperação e a solidariedade que o conduzirão à paz e à humanização da sociedade.
A competição, por sua vez, pode ser um ato saudável, desde que vise o crescimento pessoal e a superação de suas próprias dificuldades. O que Joana adverte é em relação àquela competição que derruba o outro, a qual classifica como um comportamento neurótico, inconformista e invejoso, revelando insegurança no relacionamento social.
Devido a esses comportamentos neuróticos, o homem apresenta-se desgastado, sem resistência orgânica, somatizando ideias negativas sobre a vida, que abrem campo a diferentes enfermidades.
Essa somatização acontece porque a consciência, segundo a autora, é um fator extrafísico, não produzido pelo cérebro, e sim por uma energia pensante que preexiste e sobrevive ao corpo físico. Aos poucos, através das reencarnações sucessivas, vai se adquirindo conhecimentos e sentimentos, num processo evolutivo e crescente.
Desta feita a doença passa a ser, então, um efeito de distúrbios profundos no campo dessa energia pensante que pode ser chamada de Espírito. Assim, só existem doenças, porque há doentes.
Ainda mesmo que a Ciência consiga solucionar problemas relacionados a patologias graves, descobrindo recursos e terapêuticas apropriadas, sempre surgirão novas doenças, como desafios ao homem, permitindo-lhe as conquistas verdadeiras e definitivas, que são as conquistas morais.
Joanna alerta, ainda, que as tensões, frustrações, vícios, ansiedades, fobias oportunizam distonias psíquicas que, somatizadas, apresentam problemas orgânicos, surgindo tormentos mentais e emocionais.
Portanto, a vibração mental do homem é responsável pelo seu equilíbrio, quer seja de forma consciente ou mesmo inconsciente, lembrando sempre que dentro de cada indivíduo existem recursos divinos que devem ser exteriorizados. Cabe a ele equilibrar pensamentos e sentimentos, avançando no progresso horizontal, (dos conhecimentos), mas também no vertical (da ética), visando à espiritualização.
À sociedade, como detentora do poder, cabe oferecer por meio da fraternidade, do equilíbrio, da justiça social e dos deveres humanos, um solidário empenho pela promoção dos indivíduos, sem exceção, sem exclusão e sem discriminação.
Joanna propõe ao homem contemporâneo que adquira o hábito da reflexão sobre a própria vida, valorizando a convivência familiar e os amigos, aproveitando a concessão dessa vida para fazer o seu melhor para si e para os outros.
Recomenda, também, que esse homem seja mais comedido, agindo com sensatez e tranquilidade, confiando em seus reais valores e possibilidades como regras de saúde integral, visando à harmonia pessoal.
Joanna conclui dizendo que cabe ao homem passar a considerar a própria imortalidade e começar a trabalhar com projetos duradouros em detrimento das ilusões temporárias, tendo certeza do futuro e começando a vivenciá-lo desde já, empenhado tão somente no seu programa de conscientização espiritual.
REFERÊNCIA
FRANCO, D. P. (Joanna de Ângelis) O Homem Integral 23. ed. Salvador, BA: LEAL, 2018 (série psicológica, vol. 2)



terça-feira, 5 de maio de 2020

Anda com Fé!


“Será bastante que eu toque o seu manto e ficarei curada”. Jesus, voltando-se e vendo-a, disse-lhe:” Ânimo, minha filha, tua fé te salvou”. Desde aquele momento, a mulher foi salva. (Mt 9:21, 22)
Pois em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível. (Mt 17:20)
Fé. Que força é essa capaz de curar doenças e de transportar montanhas? E se essa força está no ser humano, por que é tão pouco praticada para mudar o mundo?
Com a palavra, o Sr. Allan Kardec:
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo Kardec dedica um capítulo inteiro, o XIX, para discorrer sobre o assunto. Segundo o autor, “a fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes.”
E continua:
“A fé significa a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha com absoluta segurança”.
O pedagogo francês vai explicar, racionalmente, como a força da fé atua, acrescentando a questão do fluido cósmico universal, substância que a tudo preenche no universo:
“O poder da fé se demonstra na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente como prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural”.
Kardec esclarece também que essa fé precisa ser desenvolvida, conquistada em cada existência:
“Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a educação feita; as segundas tudo têm a aprender: estão com a educação por fazer”.
Ainda nesse mesmo capítulo XIX o Espírito José vai explicar que a “fé tem de ser ativa”; “a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem”; “é a base da regeneração”; “a fé sincera é empolgante e contagiosa”;  e adverte que não se deve admitir a fé sem comprovação: “amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas”.
Um outro Espírito complementa dizendo:  
“A fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem por a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas”.
Emmanuel, o benfeitor de Chico Xavier, se expressa poeticamente em seu livro Pensamento e Vida, cap. 6, sobre a fé:
“É força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus que é a Sabedoria da própria vida. Palpita em todos os seres, vibra em todas as coisas. Mostra-se no cristal fraturado que se recompõe, humilde, e revela-se na árvore decepada que se refaz, gradativamente, entregando-se às leis de renovação que abarcam a natureza”.
Cabe a cada um seguir na vida com o espelho da mente voltado para o bem. A ação no bem, com fé no porvir, torna as pessoas mais belas, úteis e com vontade de viver e servir mais e mais. Aprendendo com o cristal, que só é belo porque se deixa transpassar pela luz, como afirmou o professor Regis de Morais “quem opta pela opacidade não pode, como o cristal, enriquecer a luz que o atravessa”.
Emmanuel em outro livro (Palavras da vida eterna) apresenta no capítulo 162 a seguinte orientação: “bastas  vezes, as dificuldades na concretização de um projeto elevado se nos afiguram inamovíveis (...) há circunstâncias, nas quais o problema com que somos defrontados, numa questão construtiva, é julgado insolúvel (...). Mas Deus interfere e desponta uma luz. Por mais áspera a crise, por maior a consternação, não percas o otimismo e trabalha, confiante.
Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Franco, em seu livro O Homem Integral explica o porquê de muitos perderem a fé atualmente:
Em relação ao comportamento humano “adota-se uma fórmula religiosa sem que se viva de forma equânime dentro dos cânones da religião. É a experiência da religião sem religiosidade, da aparência social (...). o conceito de Deus se perde na complexidade das fórmulas vazias do culto externo, e a manifestação da fé íntima desaparece diante das expressões ruidosas, destituídas dos componentes espirituais da meditação, da reflexão, da entrega. Disso resulta uma vida esvaziada de esperança, sem convicção de profundidade, sem natureza espiritual.
A palavra fé, tanto diz respeito ao acreditar, de acordo com a etimologia grega pisti, quanto o se entregar, ser fiel, obedecendo ao significado etimológico latino “fides” (fidelidade). Acreditar e se entregar, esse o significado da fé, que deve ser colocado em prática.
Com o advento do Iluminismo no século XVIII, o homem lutou para se libertar da fé dogmática, imposta pela religião, voltando-se para a razão, com a  esperança na ciência iniciante, que lhe prometia dar todas as repostas para as situações da vida. Porém, embora a ciência venha evoluindo ao longo dos séculos, não consegue responder a todas as questões, frustrando o homem e lhe fazendo perder a fé.
A fé transcende a matéria e a ciência, é inerente ao Espírito em ascensão, em evolução moral.
Sem fé em algo maior, em uma força superior, a força do Amor exemplificada por Jesus, fica difícil viver. Regis de Morais afirma que “estamos morrendo de inanição por falta do sagrado”. Morre-se pouco a pouco, à medida em que a fé se esvai, como uma chama que aos poucos vai se apagando e, ao se apagar, vem o frio, a escuridão, o abandono, o medo.
Na situação em que se encontra o mundo, perder a fé é perder a única tábua de salvação em meio a um oceano de dúvidas, frente à invasão desse invisível ser que está modificando hábitos, reacendendo esperanças, e desvelando caráter.
É preciso lembrar dos primeiros mártires cristãos que entravam na arena cantando, como prova de fé, e caminhar na vida com essa mesma canção de fé, esperança e praticando a caridade sempre. 
REFERÊNCIA
BÍBLIA DE JERUSALÉM São Paulo: Paulus, 2012.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo 131 ed. Trad. Guillon Ribeiro Brasília, DF: FEB, 2013.
FRANCO, D. P. (Joanna de Ângelis) O Homem Integral 23. ed. Salvador, BA:LEAL, 2018 (Série Psicológica, vol. 2).
MORAIS, R. Espiritualidade e Educação Campinas, SP: Centro Espírita Allan Kardec, 2002.
XAVIER, F. C. (Emmanuel) Pensamento e Vida 19. ed. Brasília, DF: FEB, 2017
______________________ Palavras da Vida Eterna 40. ed. Brasília, DF: FEB, 2017a





terça-feira, 28 de abril de 2020

POR QUE NÃO NOS RECORDAMOS DAS VIDAS PASSADAS?


Dona Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), reconhecida médium do Movimento Espírita, em estado sonambúlico recordava-se de suas existências anteriores, o que lhe valeram alguns livros escritos por ela a respeito.
Em um de seus livros “recordações da mediunidade” ela relata que a capacidade de recordar-se de vidas passadas é um fenômeno bastante raro, embora se possa perceber estranhas reminiscências sem saber tratar-se de um passado espiritual. Sofre-se em silêncio quando não se tem ninguém a quem confidenciar essas sensações, por falta de crédito e por medo de ser discriminado.
No entanto, embora seja o desejo de muitas pessoas, não é recomendável se procure por esse tipo de informação, pois, se a lei da Criação achou por bem colocar um véu sobre o passado é porque nenhuma vantagem traria para o progresso do Espírito, agora em outro corpo, e com uma nova história, um novo recomeço.
Allan Kardec na questão 392 de O Livro dos Espíritos questionou os Espíritos sobre essa questão: por que o Espírito encarnado perde a lembrança do seu passado? E os Espíritos responderam: o homem nem pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer, na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas o homem ficaria ofuscado, como aquele que passe sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado ele é mais ele mesmo.
Kardec complementa dizendo: “Se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores, temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma reminiscência do nosso passado, às quais a nossa consciência, - que representa o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas, adverte que devemos resistir”.
Yvonne relata também no livro supracitado que o Espírito de Bezerra de Menezes disse a ela que alguns casos de transtornos mentais, internados em hospitais psiquiátricos, nada mais são do que estados agudos de excitação da subconsciência recordando existências passadas tumultuosas, ou até criminosas, acarretando na atualidade remorso, auto obsessão e a obsessão propriamente dita.
Narra a autora, ainda, que o fato de se recordar de vidas passadas pode produzir choques morais, muitas vezes intensos na personalidade, acarretando anormalidades. Esse fenômeno constitui uma provação para o Espírito, ainda pouco evoluído.
Yvonne alerta também para o fato de que a subconsciência expulsa, momentaneamente, ao calor de uma emoção forte, as ondas das lembranças calcadas nos seus refolhos, há choque emocional e sofrimento indefinível.
Ela atribui à Doutrina Espírita o fato de não sucumbir na sua presente existência, porque nasceu com essa faculdade de se recordar de vidas passadas, como forma de provação, pensando-se louca e tendendo ao suicídio mais uma vez.
Outra observação importante trazida pela autora diz respeito a revelações transmitidas por alguns médiuns, que, geralmente, com raríssimas exceções, são sempre duvidosas, fantasiosas, não tanto pelos médiuns, mas por Espíritos mistificadores querendo se divertir às custas dos Espíritas curiosos e invigilantes, ou, em outros momentos o próprio médium pode deixar-se levar pela sua imaginação e dizer o que a sua própria mente criou, num fenômeno totalmente anímico.
A médium, autora do memorável livro “Memórias de um suicida”, explica que a revelação se dá dentro do próprio ser, com suas tendências, suas visões repentinas em vigília ou durante o sono. Revelação que desperta sentimentos de angústia, saudade e até desespero ou uma emoção balsamizante de esperança no futuro e alegria do espírito.
Yvonne do Amaral Pereira em consequência de erros do passado, trouxe, como medida expiatória, uma lembrança lúcida de outras encarnações desde criança. Isso lhe acarretou muitos sofrimentos e desespero. Quando tinha três anos de idade, não conseguia aceitar sua nova condição simples, não reconhecia seus pais dessa existência, e, como uma criança birrenta não queria deles se aproximar com o carinho que se espera de um filho.
Lembrava-se dos pais de outrora e de sua rica casa, pedindo que a levassem até lá e que trouxessem seu pai, que não era aquele à sua frente. A autora conta que dos três aos nove anos de idade, sentia uma saudade imensa desse pai de outra vida.
Uma saudade elevada a grau super-humano, me levavam quase à loucura. Passava dias e noites em choro e excitações, que perturbavam toda a família, e o motivo era sempre o mesmo: o desejo de regressar à ‘casa de meu pai’, de onde me sentia banida, a saudade angustiosa que sentia dele e de tudo o mais de que me reconhecia separada. Jamais senti prazer num divertimento infantil, fui uma criança esquiva, sombria e sem riso, atormentada. (PEREIRA, 2009, p. 53).
Somente com a frequência a um centro espírita, recebendo a fluidoterapia (passes e água fluidificada) e participando de evangelização é que a médium conseguiu uma trégua para conseguir continuar nessa sua última existência.
Com a mediunidade de vidência, dentre outras, Yvonne enxergava seu amigo espiritual Roberto que lhe dizia que era preciso se lembrar de alguns episódios de outras vidas, no sentido de fazê-la refletir para a emenda definitiva. Os sofrimentos seriam inevitáveis, mas ele estaria ao lado dela para auxiliá-la a suportá-los com firmeza e ânimo.
Quando soube através de Bittencourt Sampaio que haveria de passar por muitos reveses nessa vida, tratou de estudar a Doutrina Espírita. Assim, mais importante do que saber de vidas passadas, é conhecer, nessa existência, o Espiritismo, aprender com essa Doutrina esclarecedora sobre o que é a reencarnação, seus propósitos, o papel que compete a cada um desempenhar, alicerçados pelo Evangelho de Jesus, conhecendo o próprio Jesus nessa vida.
Essa deve ser a meta almejada, olhar para frente, projetando o futuro a partir da semeadura de hoje.
Yvonne teve muitas dificuldades nessa existência por causa de seu passado culposo, suicida, mas com certeza semeou uma nova existência plena, devido à sua resignação, aceitação e devotamento à causa do bem.
Que fique a lição dessa médium extraordinária e silenciosa, mas produtiva e amorosa. Viver o hoje com vista no amanhã, Kardec de um lado e Jesus à frente.
REFERÊNCIA:
PEREIRA, Yvonne A. Recordações da Mediunidade 4. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.


sexta-feira, 27 de março de 2020

Recordações do Passado – Um exemplo de mediunidade em criança



Yvonne do Amaral Pereira em seu livro Recordações da Mediunidade apresenta a possibilidade de os fenômenos mediúnicos ocorrerem desde a infância. No caso dela, a partir dos 29 dias de vida, num processo de letargia, quando quase foi enterrada vida, não fora as preces de sua mãe à Maria Santíssima.
A médium interpreta esse acontecimento como um sinal de que ela precisaria passar por provas e testemunhos que a vida lhe exigiria, por ter sido um Espírito rebelde em outra existência.
Ela continua sua interpretação dizendo: “ingressando na vida terrena para uma encarnação expiatória, eu deveria, com efeito, morrer para mim mesma, renunciando ao mundo e às suas atrações, para ressuscitar o meu Espírito, morto no pecado, através do respeito às leis de Deus e do cumprimento do dever, outrora vilipendiado pelo meu livre-arbítrio”.
Em sua primeira infância a autora já apresentava alguns fenômenos mediúnicos, como o desdobramento, que é quando o perispírito se distancia parcialmente do corpo físico. Aos quatro anos de idade já se comunicava com os Espíritos desencarnados, pela visão e audição, sendo para ela um fenômeno natural, porque os Espíritos   lhe pareciam muito concretos, muito vivos.
Esse exemplo real é um ensinamento aos pais para que observem melhor o comportamento dos seus filhos e suas expressões verbais. Não raro se observa crianças na tenra idade comentar sobre avós ou tios desencarnados e serem advertidas pelos genitores quando, na verdade, deveriam ser ouvidas e o caso apreciado com outro olhar.
Para a criança, assim como para Yvonne, o fenômeno é visto com naturalidade, até que um adulto lhe coloque medo e a proíba de falar a respeito desse assunto. Esse tema foi bastante explorado no filme norte americano O Sexto Sentido (Shyamalan, 1999). 
Isso não significa que se deva levar uma criança a um centro espírita para desenvolver a sua mediunidade. O próprio Kardec fez essa pergunta aos Espíritos (O Livro dos Médiuns, cap. XVIII): Será inconveniente desenvolver-se a mediunidade nas crianças? A que os Espíritos responderam: certamente, pois há o risco desses organismos ainda delicados sofrerem fortes abalos, além de superexcitar a sua imaginação. 
No entanto, Kardec faz uma observação quanto às manifestações espontâneas da mediunidade em crianças: nesses casos a criança comentaria, sem dar muita importância ao fato e com o passar do tempo acaba se esquecendo.
Se o fenômeno persistir, cabe aos pais ensinar-lhes o respeito aos Espíritos, encaminhá-las para as aulas de Evangelização Infantil que, geralmente, existem nos Centros Espíritas e não forçar jamais o seu desenvolvimento em trabalhos mediúnicos, até que estejam maduras para esse mister. 
É bom lembrar que não se deve fantasiar esses fatos com ideias preconceituosas e sem fundamentos. Não classificar essas crianças como anjos, nem tampouco como demônios e nem mesmo como crianças especiais, já que se trata de um fenômeno inerente ao ser humano e não um "dom" ou privilégio. É importante introduzi-la também nas reuniões do Evangelho no Lar com leituras apropriadas e esclarecedoras.
No caso de Yvonne ela explica da seguinte maneira o fenômeno observado por ela na infância: "ao meu entender eram pessoas da família e por isso, talvez, jamais me surpreendi com a presença deles. Uma dessas personagens era-me particularmente afeiçoada - eu a reconheci como pai e a proclamava como tal a todos os de casa, com naturalidade".
Corroborando o que os Espíritos disseram a Kardec sobre o esquecimento do fato, diz Yvonne: "tudo me parecia comum, natural, e, como criança que era, certamente não poderia haver preocupação de reter na lembrança o assunto daquelas conversações". Ela tinha somente quatro anos de idade.
Aos oito anos, narra a médium, o fenômeno se repetiu. Desprendendo-se parcialmente do corpo físico, recebeu o primeiro aviso para se dedicar à Doutrina do Senhor e do que seria a sua vida de provações.
A pequena Yvonne participava do catecismo na igreja católica, encantava-se com as imagens existentes na igreja e as pinturas dos vitrais, não obstante fosse uma criança infeliz, por lembrar-se de uma vida passada, quando era rica e cheia de atenções, com seus desejos sempre atendidos, e, agora, tendo que viver com parcos recursos materiais, sem condições de atender-lhe as futilidades de outrora.
Foi nessa mesma época, aos oito anos de idade, que teve acesso ao seu primeiro livro espírita. Ela tinha muita fé, esperança e paciência na justiça divina, as quais foram reforçadas pela Doutrina do Senhor.
Com o conhecimento do Espiritismo e ciente da necessidade de se cultivar os fenômenos mediúnicos, Yvonne obteve ajuda para superar as dificuldades que trouxera para essa reencarnação expiatória, como resultado de uma passado espiritual desarmonizado com o bem.
Pelo que se pode perceber, Yvonne do Amaral Pereira foi, desde cedo, exemplo de médium que bem soube, de forma obediente e disciplinada, cumprir seu planejamento reencarnatório. Vale a leitura de seus livros, como obras doutrinárias.
REFERÊNCIA
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns (trad. Evandro N. Bezerra) 2. ed. Brasília, DF: FEB, 2013.
PEREIRA, Y. A. Recordações da Mediunidade 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.



segunda-feira, 23 de março de 2020

E o bem? Deixa para depois...



É comum ouvir dizer que a vida é eterna, e, cada existência, breve. No entanto, dependendo da atividade, esta parece longa e cansativa, principalmente se está relacionada ao trabalho no bem, ao servir o outro.
Talvez seja pelo fato de se habitar um mundo pouco evoluído e o bem parecer um fardo, um favor, uma penitência. Cansa-se muito fácil e qualquer apelo material é motivo para deixar de se realizar uma função, uma tarefa, uma causa, um cuidado.
Tanto é verdade que o benfeitor Emmanuel no livro Vinha de Luz, sob a psicografia de Chico Xavier, apresenta uma explicação de uma passagem evangélica (Mc 4:17) com o título “Depois”, em que elucida alguns comportamentos humanos.
Em determinado trecho, o autor espiritual lembra que há pessoas que aceitam o braço de um benfeitor, com alegria, manifestações de júbilo, mas, depois... quando desaparece a necessidade, surgem queixas descabidas e mesmo a ingratidão e a indiferença, costumando-se dizer: - “ele não é tão bom quanto parece”.
Em relação aos profitentes de alguma religião o que geralmente acontece, segundo Emmanuel, é que se começa uma tarefa caritativa com grande entusiasmo, contudo, depois... ao surgirem os primeiros espinhos, proclama-se a falência da fé, e chegam a dizer: “não vale a pena”.
Em se tratando de tarefa espírita já disse o grande expoente Raul Teixeira de Niterói, RJ: espiritismo não é para quem quer, é para quem aguenta.
Quando se é neófito no Espiritismo e começa-se a ler os livros luminosos da codificação e de Chico Xavier, principalmente, nasce um estímulo, que vem do alto, despertando o bem que dormita em cada ser, no entanto, depois...ao se perceber a exigência da disciplina e até um certo sacrifício para se alcançar a tão sonhada iluminação espiritual; quando se percebe que não é possível virar um Chico Xavier ou um Emmanuel da noite para o dia, ouve-se a reclamação: “assim também, não”.
Em outra ocasião é possível ajudar um companheiro na estrada, com extremado carinho, atenção e desvelo até que depois...se não há retorno imediato do que se está plantando, é possível ouvir: “não posso mais”.
Nessa hora é que se costuma por fim ao trabalho no bem, com o cansaço, o desânimo, a falta de hábito de ser para o outro, por falta da verdadeira implantação do bem no coração de quem deseja praticá-lo. Perde-se uma grande oportunidade e o indivíduo volta-se contra si mesmo. Em outra mensagem de Emmanuel no livro Caminho, Verdade e Vida ele assevera: “o serviço de Jesus é infinito”.
Infinito significa sem fim, ou seja, o trabalho no bem não deve terminar nunca, por isso não se deve cansar, entediar e, principalmente, desistir. Faz-se mister acostumar-se com o bem, para que um dia ele seja um processo natural em cada ser humano.
E reforça Emmanuel: Todos sabem principiar o ministério do bem, poucos prosseguem na lide salvadora, raríssimos terminam a tarefa edificante.
É realmente preocupante saber que muitos começam, poucos dão continuidade e somente alguns conseguem terminar.
Mensagem similar encontra-se em o livro Os Mensageiros, psicografado por Chico Xavier, quando o Espírito André Luiz ouve de Tobias, um dos trabalhadores de Nosso Lar, que o Centro de Mensageiros, localizado no Ministério das Comunicações da colônia, organiza turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. De lá partem milhares de Espíritos aptos ao serviço no bem, mas raros são os que triunfam.
E o Espírito Tobias prossegue: raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a extenso pretérito de erros criminosos que nos deformaram a personalidade. E adverte: em cada novo ciclo de empreendimentos carnais, acreditamos muito mais em nossas tendências inferiores do passado que nas possibilidades divinas do presente, complicando sempre o futuro.
Esse comportamento, segundo Tobias, faz com que se agarre ao mal e se esqueça do bem, interpretando a dificuldade como punição e não como oportunidade preciosa para os que já entendem a vida além da vida, além da matéria.
Voltando às considerações de Emmanuel, este continua sua análise dizendo que, quando se trata de desejos materiais, relacionados às paixões terrenas, com perigosas consequências para si mesmo, é possível uma realização rápida e sem reclamação, alcançando o fim desejado, a qualquer custo.
Facilmente se inicia uma discórdia, rapidamente se lança a uma desarmonia no ambiente, fácil dirigir palavras ferinas àqueles com os quais convive, assim como desrespeitar regras de bem viver, de trânsito, éticas.
O autor espiritual Emmanuel conclui suas observações com ar de lamento: é muito difícil perseverar no bem e sempre fácil atingir o mal. Todavia, depois...
REFERÊNCIA:
XAVIER, F. C. (Emmanuel) Caminho, Verdade e Vida 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994.
____________ (André Luiz) Os Mensageiros 47. ed. Brasília, D.F.: FEB, 2013
____________ (Emmanuel) Vinha de Luz Brasília, D.F.: FEB, 2014.




sexta-feira, 13 de março de 2020

A CATALEPSIA E A LETARGIA, SOB O OLHAR DE YVONNE A. PEREIRA



Falar sobre mediunidade é um tema que não se esgota e, para isso, nada melhor do que trazer para a discussão a grande médium brasileira Yvonne A. Pereira e seu guia-mor Adolfo Bezerra de Menezes, que, juntos, escreveram o célebre livro: Recordações da Mediunidade.
A médium em questão solicitou autorização da Espiritualidade superior para escrever o livro e foi orientada que escrevesse sobre si mesma e tudo o que passou para ser um obediente instrumento mediúnico; por isso o livro diz respeito às confidências de uma médium ao final de sua jornada.
Recordações da mediunidade traz o amargor das lágrimas que chorou durante suas provações, as humilhações que a acompanharam em toda a sua existência e o quanto a Doutrina Espírita a consolou e remediou, nas palavras da autora.
Em todo o relato de suas experiências a médium procurou embasar-se nos ensinamentos que os Espíritos revelaram a Allan Kardec, pois considerava-se um testemunho vivo do valor do Espiritismo na recuperação de uma alma para si mesma e para Deus, chegando a afirmar que, sem essa Doutrina, que conheceu desde o nascimento, não teria vencido suas lutas.
Sua faculdade mediúnica se desdobrou em todos os setores da prática espírita, suportando dores morais, ininterruptamente renovadas durante o longo exercício da mediunidade.
A médium sofreu um processo de catalepsia ou letargia, melhor dizendo, quando tinha 29 dias de vida, sendo quase enterrada viva, não fossem as preces de sua mãe à Maria, mãe de Jesus. Assim, ela começa a escrever o livro explicando esse processo.
“A letargia e a catalepsia derivam do mesmo princípio, que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento, por uma causa fisiológica ainda inexplicada”. (PEREIRA, 2009, p. 12)
Na letargia a suspensão das forças vitais é geral e dá ao corpo a aparência de morte; na catalepsia pode atingir uma parte mais ou menos extensa do corpo.
No livro em questão, Bezerra de Menezes traz uma longa explicação a respeito do processo.
Segundo esse benfeitor, ao se estudar o processo tanto da catalepsia, quanto da letargia, a ciência psíquica e a Doutrina Espírita podem tirar grandes ensinamentos e revelações em torno da alma humana, podendo, inclusive, curá-las ou mesmo evitá-las, embora não seja objeto de estudo das ciências médicas.
Bezerra de Menezes afirma que ambas, catalepsia e letargia, não são doenças, mas uma faculdade mediúnica, ainda incompreendida. E por não serem compreendidas e estudadas é que, comumente, são exploradas pela mistificação e pela obsessão de inimigos invisíveis, degenerando para um estado mórbido do perispírito.
O que ocorre durante o processo é uma neutralidade do fluido vital, resultando no estado de anestesia geral ou parcial, quando a perda da sensibilidade faz com que se apresentem todos os sintomas da morte.
Bezerra chama a atenção para o fato de que, ao ser feito um tratamento psíquico adequado, essa faculdade poderá fornecer aos estudiosos pesquisadores, um vasto campo de elucidação científica-transcendental.
Em relação ao tratamento nas Casas Espíritas, constata-se que o cultivo dessa mediunidade, proporcionando o contacto das correntes vibratórias magnéticas constantes, e o suprimento das forças vitais próprias dos fenômenos mediúnicos mais conhecidos, será possível corrigir esse processo, podendo até, ser orientado para fins dignificantes a bem da evolução do seu possuidor e da coletividade, alertou Dr. Bezerra.
Os passes e a intervenção oculta dos mestres da Espiritualidade, têm evitado que a catalepsia e a letargia se propaguem entre os homens com feição de calamidade. Um evento que nada tem de novo, tendo em vista que no Evangelho é possível identificá-lo na ressurreição de Lázaro (Jo,11:1-44), na filha de Jairo (Mc 5:21-43) e na viúva de Naim (Lc 7:11-17).
O perispírito age como reservatório de forças vitais e os laços magnéticos são os agentes transmissores que suprem a organização física, se esse encontra-se desequilibrado e as ligações, frágeis, mais facilmente o processo cataléptico se instala.
“Enquanto o homem não se integrar de boa mente na sua condição de ser divino, vibrando satisfatoriamente no âmbito das expansões sublimes da Natureza, mecanicamente estará sujeito a esse e demais distúrbios”. (PEREIRA, 2009, p.17)
A catalepsia e a letargia como faculdades mediúnicas, não têm a ver com a inferioridade do indivíduo que a possui. Sendo assim, as mesmas podem ser direcionadas para prestarem excelentes serviços à causa do bem, tais como as demais faculdades mediúnicas. Porém, tanto nas manifestações úteis, quanto nas prejudiciais, a mente, o pensamento e a vontade do médium não estão isentas de responsabilidade.
Entendendo-se que o transe mediúnico ocorre devido a um afastamento parcial do perispírito do encarnado, é comum acontecer no período de repouso noturno, sem que o médium o perceba. No entanto, existem encarnados que, senhor de suas próprias vibrações, poderá cair em transe letárgico ou cataléptico, voluntariamente, alçar-se ao Espaço e desfrutar do convívio dos amigos espirituais, dedicar-se a estudos profundos, colaborar com o bem e depois voltar ao corpo carnal, reanimado e apto a excelentes realizações.
Outrossim, homens que ainda não atingiram tal mister, podem cair em transe, mas conviver com entidades espirituais inferiores e retornar obsidiados, predispostos a maus atos e até inclinados ao homicídio ou ao suicídio, causando um distúrbio vibratório.
Um alcoólatra, por exemplo, poderá, segundo o autor espiritual, renascer propenso à catalepsia porque o álcool lhe viciou as vibrações, anestesiando-as, o mesmo para usuários de outras drogas, que são considerados suicidas involuntários, do outro lado.
Independente da causa, o tratamento é o mesmo: a renovação mental, a qual pode influir poderosamente no sistema de vibrações nervosas, sem esquecer que tudo isso faz parte de uma expiação, sendo um efeito grave, por consequência de uma falta grave.
O fenômeno da letargia tem ação benéfica muito mais no plano espiritual, trazendo o paciente, ao despertar, intuições, instruções para serem aplicadas no plano terreno. São orientações que ocorrem no plano espiritual que conduzem sábios e gênios a concluírem o que foi programado em sua existência, uma pesquisa, um projeto, uma missão, não se tratando de privilégios.
Provoca-se esse fenômeno sob ação magnética, anestesiando as forças vibratórias até ao estado agudo, e anulando os fluidos vitais, daí a morte aparente, por ter suspendio sua sensibilidade e as correntes de comunicação com o corpo carnal.
Mesmo acontecendo de forma espontânea, há um agente espiritual provocando-o, independentemente de sua categoria, se elevada ou inferior, o que seria um processo de obsessão.
Se se tratar de obsessão é necessário evangelizar o paciente, possibilitando sua transformação moral, orientando-o sob as normas espíritas, até florescer nos campos mediúnicos.
É preciso observar, estudar e analisar os fatos espíritas, aprofundando-se em torno dos fenômenos e ensinamentos apresentados pela ciência transcendente, a ciência imortal, que exige verdadeiras atenções do senso e da razão, segundo o venerável Bezerra de Menezes.
Por mais que se leia a respeito, o que realmente se conhece sobre mediunidade são seus efeitos, nada se sabe onde é possível chegar no seu intricado mistério, exigindo constante pesquisa de pessoas sérias e comprometidas com a causa Espírita.
Assim começa a primeira parte desse livro extraordinário “Recordações da Mediunidade”, escrito por uma médium não menos extraordinária, Yvonne do Amaral Pereira. Bem-vindo (a) ao primeiro capítulo. Boa leitura.
REFERÊNCIA
PEREIRA, Y. A. Recordações da Mediunidade 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.


ESTÊVÃO

A história de Estêvão no Evangelho começa com um diálogo entre os discípulos de Jesus que continuaram seu trabalho atendendo aos mais necess...