Manoel Philomeno de Miranda,
desencarnado em 1942, foi um destacado trabalhador do Movimento Espírita,
mormente na Federação Espírita do Estado da Bahia. Trabalhador atuante na área
de desobsessão, continuou suas pesquisas nessa área, após a sua desencarnação.
Desde a década de 1970 o
Espírito de Miranda tem trazido, sob a psicografia de Divaldo Pereira Franco,
também baiano, livros a respeito do tema obsessão e desobsessão para orientação
dos interessados em continuar suas pesquisas.
Em seu livro Grilhões Partidos
o autor afirma que o homem vem sofrendo de uma alienação obsessiva, padecendo
de tormentos íntimos oriundos do fundo da alma. Embora os casos estejam
aumentando, a ciência tradicional continua negando a possibilidade de uma
interferência espiritual na etiopatogenia de algumas enfermidades mentais.
Segundo o autor, grande
quantidade de pessoas classificadas como loucas, são, na verdade, obsedadas
expungindo faltas e crimes cometidos no passado. São defraudadores dos dons da
vida que retornam jungidos àqueles que infelicitaram, enganaram, abandonaram,
mas dos quais não se conseguiram libertar.
“Atados mentalmente aos
gravames cometidos, construíram as algemas a que se aprisionam, em vinculação
com os que supunham ter destruído”. (FRANCO, 2019, p. 9)
Muito antes de Philomeno de
Miranda, Kardec já havia advertido (O Livro dos Médiuns, cap. 23) sobre o
assunto, classificando obsessão como o domínio que alguns Espíritos exercem
sobre certas pessoas, sendo praticada unicamente por Espíritos inferiores.
Esses Espíritos agarram-se àqueles a quem podem aprisionar.
Kardec também apresentou três
variedade de obsessão: a simples, a fascinação e a subjugação.
Kardec chamou de obsessão
simples aquela em que um Espírito malfazejo se impõe de forma persistente sobre
um indivíduo. No caso da obsessão por fascinação o Espírito produz uma ilusão
sobre o pensamento do indivíduo, paralisando a sua capacidade de julgamento e
expondo-o, muitas vezes, ao ridículo em suas observações. A terceira, a subjugação,
paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir contra a sua vontade, fica
sob o jugo do obsessor.
As causas da obsessão são
muitas, pode ser por vingança, desejo de fazer o mal, ódio ou inveja do bem,
aproveitamento da fraqueza moral dos indivíduos dentre outras.
As obsessões só acontecem por
causa da inferioridade moral dos habitantes do planeta. A ação maléfica desses
Espíritos, segundo Kardec (A Gênese cap. 14) faz parte dos flagelos com que a
humanidade se debate neste mundo. É um tipo de expiação a que todos estão
sujeitos, já que decorre sempre de uma imperfeição moral.
Suspeitando dessa
possibilidade Kardec pergunta na questão 459 de O Livro dos Espíritos: “Influem
os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?” A que os Espíritos
respondem: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário,
são eles que vos dirigem”.
Surpreso com a resposta,
Kardec questiona ainda (q. 466): Por que permite Deus que Espíritos nos excitem
ao mal? E obtém como resposta: “Os Espíritos imperfeitos são instrumentos
próprios a por em prova a fé e a constância dos homens na prática do bem (...)
Desde que sobre ti atuam influências más, é que as atrais, desejando o mal;
porquanto os Espíritos inferiores correm a te auxiliar no mal, logo que desejas
praticá-lo”.
Os Espíritos explicam, então,
que Deus permite o processo obsessivo como prova experimental e cabe a cada um,
usando do seu livre-arbítrio repelir sua influência.
Yvonne do Amaral Pereira,
desencarnada em 1984, em seu livro Recordações da Mediunidade, destaca o
assunto obsessão como um dos mais belos estudos da Doutrina Espírita e sugere
que a pesquisa envolvendo obsessões, obsessores e obsidiados, deveria ser uma
especialidade entre os Espíritas.
Segundo a autora, assim como
existem médicos pediatras, oftalmologistas etc., também deveriam existir
Espíritas especializados nos casos de tratamento de obsessões, com dedicação
exclusiva a tal particularidade da Doutrina.
No livro citado a médium narra
vários casos de obsessões, bem como, o tratamento a eles despendidos. No
entanto faz um alerta:
“Tantas são as modalidades, as
espécies de obsessão que se nos têm deparado durante o nosso longo tirocínio de
Espírita e médium que, certamente, para examiná-las todas, na complexidade das
suas manifestações e origens, precisaríamos organizar um compêndio”. (PEREIRA,
2009 p.210).
Em outro livro intitulado
Perturbações Espirituais (FRANCO e MIRANDA), em seu primeiro capítulo uma Veneranda Senhora (Espírito Superior) faz um alerta sobre a
obsessão coletiva que se instalou na Terra, principalmente sobre os Centros
Espíritas sérios e, ao mesmo tempo, chama a atenção dos Espíritas para com o
seu comportamento, muito terreno e pouco espiritualizado. Pede oração e muita
vigilância, estudo e perseverança no bem.
O oitavo capítulo desse livro
inicia-se com a narrativa do autor Philomeno de Miranda sobre as reflexões de
Bezerra de Menezes:
“Para onde nos dirigimos
sempre defrontamos a beleza da Criação, os sinais de Deus que não estão apenas
nos astros, mas em toda parte, seja no minúsculo grão de areia, na florzinha
delicada, no inseto leve e quase insignificante, assim como na glória estelar,
nas incontáveis galáxias”.
Em todo lugar a divina
harmonia mantendo a ordem e o equilíbrio, cabendo a cada um, segundo Bezerra, a
necessidade de manter essa harmonia para que a vida se manifeste no planeta,
organizando os pensamentos à conduta
ético-moral, modificando a psicosfera
densa da Terra, que ainda é portadora de miasmas
pestilentos, de que se nutrem as
multidões infelizes desencarnados que lhe permanecem imantados, propiciando as
obsessões complexas.
Relatando uma reunião de
desobsessão, o autor apresenta uma informação do obsessor em forma de ameaça:
“Estamos fixados em um
programa de lenta extinção da atividade do Consolador que vocês dizem
representar. Este é o momento da Ciência e do poder social, econômico (...).
Em toda parte, temos interferido para que a mentalidade humana se aproveite dos
favores do conhecimento tecnológico para o prazer
até a exaustão. Enganados e atormentados pelos desejos infrenes, estimulamos a sociedade fútil à fruição de
tudo quanto possa, pouco importando os princípios éticos, morais. Gozar é a nova ordem, porém, gozar
hoje, porque amanhã talvez seja tarde demais (grifo nosso).
E não é esse o comportamento
da sociedade atual, o hedonismo a qualquer preço? Por isso a importância do
estudo desse livro, para mostrar que os obsessores não estão brincando e que
não se deve “brincar com a vida”, principalmente os Espíritas, que possuem todo
esse conhecimento.
Ao final do livro o Espírito que se apresentou
com o nome de irmão Elvídio faz o seguinte alerta:
“Ontem possuíamos o circo, as
feras, o empalamento, as fogueiras, as cruéis técnicas da impiedade impondo-nos
abjurar a crença em Jesus (...). Agora, os verdadeiros cristãos enfrentam
situações mais desafiadoras, embora não tão dolorosas: as distrações e desvios
de conduta tornados estímulos de vida, comodidades e liberação dos costumes em
atração mortal para os abismos dos vícios e da criminalidade, promiscuidade
moral e ausência de afetividade, solidão e falta de companheirismo saudável”.
“Por outro lado, as
interferências espirituais negativas fazem-se muito mais perigosas, em razão do
intercâmbio entre encarnados e desencarnados, em alta intensidade, por causa
dos fatores em jogo, mais atraentes para o prazer até a exaustão dos sentidos”.
O autor concita os Espíritas à
tarefa de advertir aos incautos que o túmulo não é a porta final da dissolução
da vida e, mais ainda, fazer de seus exemplos de dignidade e perseverança nos
propósitos elevados a demonstração das próprias informações, que lhes
proporcionam bem-estar e alegria nesta época de enfrentamentos evolutivos, sem
ressentimentos nem desânimo.
O importante é lembrar sempre
que somente a claridade do amor e do perdão conseguem partir os grilhões e
libertar os que se encontram presos uns aos outros por processos obsessivos.
Amemos, pois, esse é único Caminho, Verdade e Vida: Jesus.
REFERÊNCIA
KARDEC, A. O Livro dos
Espíritos (trad. Guillon Ribeiro) 93. ed. Brasília, DF:FEB, 2013.
___________ O Livro dos
Médiuns (trad. Evandro N. Bezerra) 2. ed. Brasília, DF: FEB, 2013a.
___________ A Gênese
(trad. Evandro N. Bezerra) 2. ed. Brasília, DF: FEB, 2013b.
FRANCO, DIVALDO P. (Manoel P.
Miranda, Espírito) Perturbações Espirituais Salvador, BA: LEAL, 2015.
___________________________________________
Grilhões Partidos 16. ed. Salvador, BA: LEAL, 2019.
PEREIRA, YVONNE A. Recordações
da Mediunidade 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 209.