terça-feira, 28 de abril de 2020

POR QUE NÃO NOS RECORDAMOS DAS VIDAS PASSADAS?


Dona Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), reconhecida médium do Movimento Espírita, em estado sonambúlico recordava-se de suas existências anteriores, o que lhe valeram alguns livros escritos por ela a respeito.
Em um de seus livros “recordações da mediunidade” ela relata que a capacidade de recordar-se de vidas passadas é um fenômeno bastante raro, embora se possa perceber estranhas reminiscências sem saber tratar-se de um passado espiritual. Sofre-se em silêncio quando não se tem ninguém a quem confidenciar essas sensações, por falta de crédito e por medo de ser discriminado.
No entanto, embora seja o desejo de muitas pessoas, não é recomendável se procure por esse tipo de informação, pois, se a lei da Criação achou por bem colocar um véu sobre o passado é porque nenhuma vantagem traria para o progresso do Espírito, agora em outro corpo, e com uma nova história, um novo recomeço.
Allan Kardec na questão 392 de O Livro dos Espíritos questionou os Espíritos sobre essa questão: por que o Espírito encarnado perde a lembrança do seu passado? E os Espíritos responderam: o homem nem pode nem deve saber tudo; Deus assim o quer, na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas o homem ficaria ofuscado, como aquele que passe sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado ele é mais ele mesmo.
Kardec complementa dizendo: “Se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores, temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma reminiscência do nosso passado, às quais a nossa consciência, - que representa o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas, adverte que devemos resistir”.
Yvonne relata também no livro supracitado que o Espírito de Bezerra de Menezes disse a ela que alguns casos de transtornos mentais, internados em hospitais psiquiátricos, nada mais são do que estados agudos de excitação da subconsciência recordando existências passadas tumultuosas, ou até criminosas, acarretando na atualidade remorso, auto obsessão e a obsessão propriamente dita.
Narra a autora, ainda, que o fato de se recordar de vidas passadas pode produzir choques morais, muitas vezes intensos na personalidade, acarretando anormalidades. Esse fenômeno constitui uma provação para o Espírito, ainda pouco evoluído.
Yvonne alerta também para o fato de que a subconsciência expulsa, momentaneamente, ao calor de uma emoção forte, as ondas das lembranças calcadas nos seus refolhos, há choque emocional e sofrimento indefinível.
Ela atribui à Doutrina Espírita o fato de não sucumbir na sua presente existência, porque nasceu com essa faculdade de se recordar de vidas passadas, como forma de provação, pensando-se louca e tendendo ao suicídio mais uma vez.
Outra observação importante trazida pela autora diz respeito a revelações transmitidas por alguns médiuns, que, geralmente, com raríssimas exceções, são sempre duvidosas, fantasiosas, não tanto pelos médiuns, mas por Espíritos mistificadores querendo se divertir às custas dos Espíritas curiosos e invigilantes, ou, em outros momentos o próprio médium pode deixar-se levar pela sua imaginação e dizer o que a sua própria mente criou, num fenômeno totalmente anímico.
A médium, autora do memorável livro “Memórias de um suicida”, explica que a revelação se dá dentro do próprio ser, com suas tendências, suas visões repentinas em vigília ou durante o sono. Revelação que desperta sentimentos de angústia, saudade e até desespero ou uma emoção balsamizante de esperança no futuro e alegria do espírito.
Yvonne do Amaral Pereira em consequência de erros do passado, trouxe, como medida expiatória, uma lembrança lúcida de outras encarnações desde criança. Isso lhe acarretou muitos sofrimentos e desespero. Quando tinha três anos de idade, não conseguia aceitar sua nova condição simples, não reconhecia seus pais dessa existência, e, como uma criança birrenta não queria deles se aproximar com o carinho que se espera de um filho.
Lembrava-se dos pais de outrora e de sua rica casa, pedindo que a levassem até lá e que trouxessem seu pai, que não era aquele à sua frente. A autora conta que dos três aos nove anos de idade, sentia uma saudade imensa desse pai de outra vida.
Uma saudade elevada a grau super-humano, me levavam quase à loucura. Passava dias e noites em choro e excitações, que perturbavam toda a família, e o motivo era sempre o mesmo: o desejo de regressar à ‘casa de meu pai’, de onde me sentia banida, a saudade angustiosa que sentia dele e de tudo o mais de que me reconhecia separada. Jamais senti prazer num divertimento infantil, fui uma criança esquiva, sombria e sem riso, atormentada. (PEREIRA, 2009, p. 53).
Somente com a frequência a um centro espírita, recebendo a fluidoterapia (passes e água fluidificada) e participando de evangelização é que a médium conseguiu uma trégua para conseguir continuar nessa sua última existência.
Com a mediunidade de vidência, dentre outras, Yvonne enxergava seu amigo espiritual Roberto que lhe dizia que era preciso se lembrar de alguns episódios de outras vidas, no sentido de fazê-la refletir para a emenda definitiva. Os sofrimentos seriam inevitáveis, mas ele estaria ao lado dela para auxiliá-la a suportá-los com firmeza e ânimo.
Quando soube através de Bittencourt Sampaio que haveria de passar por muitos reveses nessa vida, tratou de estudar a Doutrina Espírita. Assim, mais importante do que saber de vidas passadas, é conhecer, nessa existência, o Espiritismo, aprender com essa Doutrina esclarecedora sobre o que é a reencarnação, seus propósitos, o papel que compete a cada um desempenhar, alicerçados pelo Evangelho de Jesus, conhecendo o próprio Jesus nessa vida.
Essa deve ser a meta almejada, olhar para frente, projetando o futuro a partir da semeadura de hoje.
Yvonne teve muitas dificuldades nessa existência por causa de seu passado culposo, suicida, mas com certeza semeou uma nova existência plena, devido à sua resignação, aceitação e devotamento à causa do bem.
Que fique a lição dessa médium extraordinária e silenciosa, mas produtiva e amorosa. Viver o hoje com vista no amanhã, Kardec de um lado e Jesus à frente.
REFERÊNCIA:
PEREIRA, Yvonne A. Recordações da Mediunidade 4. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.


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