quarta-feira, 5 de agosto de 2020

ESTÊVÃO


A história de Estêvão no Evangelho começa com um diálogo entre os discípulos de Jesus que continuaram seu trabalho atendendo aos mais necessitados a caminho de Jerusalém.
“Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus para servir às mesas. Irmãos, selecionai, dentre vós, sete varões atestados, cheio de espírito e sabedoria, os quais constituiremos sobre esta necessidade (...). e escolheram Estêvão, varão cheio de fé e do Espírito Santo, dentre outros, os quais se colocaram de pé diante dos apóstolos que, orando, lhes impuseram as mãos. (At, 6:2, 3, 5, 6 e 7)
A partir dessa escolha começa a história de Estêvão, figura emblemática do Evangelho. Mais a frente o evangelista Lucas, redator desse livro Atos dos Apóstolos, vai dizer que Estêvão era “cheio de graça e de poder, operava prodígios e grandes sinais entre o povo” (At, 6:8). Quando alguns da sinagoga se punham a debater com ele, sucumbiam frente a alguém com tanta sabedoria e verdade. Como soi acontecer com aqueles que pregam a verdade a quem não está preparado para escutá-la, acabou preso, vítima de calúnia de blasfemador contra Moisés e contra Deus. Frente aos anciãos e escribas do Sinédrio fora acusado formalmente. Sua presença na principal casa religiosa da cidade magnetizou todos os presentes: “Todos os membros do Sinédrio com os olhos fixos nele, tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo”. (At, 6:15).

Sinédrio era um concílio supremo que regia as questões religiosas dos judeus, formado por cerca de 70 membros (ZIBORDI, 2018). Nesse concílio haviam representantes tanto dos saduceus, quanto dos fariseus. Era constituído do sumo sacerdote, e de antigos sumos sacerdotes, de membros de suas famílias, de chefes das tribos ou das familias, que eram chamados de anciãos, e dos escribas - os doutores da lei. (COLEMAN apud ZIBORDI).
Para sua defesa Estêvão apresenta um discurso (At, 7:1-55) belíssimo, trazendo toda a história dos hebreus desde Abraão e terminando na vinda do Messias em Jesus de Nazaré. Nesse momento “arrastando-o para fora da cidade, começaram a apredrejá-lo. As testemunhas depuseram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo” (At, 7:58-59).
Assim termina a passagem rápida de Estêvão pelo evangelho dos Atos dos Apóstolos. No entanto, Emmanuel, pelas mãos abençoadas de Chico Xavier lança em 1941 a obra Paulo e Estêvão oportunizando aos leitores conhecer um pouco mais da vida dessa figura emblemática do cristianismo, trazendo promenores que elucidam a importância desse Espírito na implantação do Evangelho de Jesus na Terra.
Diz Emmanuel que a casa dos Apóstolos em Jerusalém se chamava “Casa do Caminho”, pois situava-se à beira do caminho que leva à cidade santa. Foi nessa casa que Estêvão começou suas pregações falando a respeito do Nazareno, difundindo entre os doentes e indigentes de Jerusalém os mais santos consolos. Sua palavra era um alento aos idosos desamparados e desesperançados, que encontravam ânimo e vontade de viver sob a influência de sua palavra inspirada na fonte divina do Evangelho. Todos queriam estar próximos a Estêvão e sentir a vibração boa em sua presença carinhosa e fraterna.
Eis um grande ensinamento para os dias de hoje: ser presença que acolhe, carinhosa e fraterna, ser um presente para o outro e envolvê-lo com palavras reconfortantes originárias do Evangelho do Cristo e com a aura iluminada do bem. Palavras magnetizadas com amor, curam enfermidades do corpo e do Espírito.
Estêvão, segundo o autor espiritual, foi ficando famoso na cidade de Jerusalém. Com sua fé ardente e pura apresentava à multidão Jesus como Salvador, comentando sobre sua vida com seu verbo inflamado de luz. Os próprios apóstolos que caminharam com Jesus ficavam admirados com suas inspiradas pregações. Um jovem que não conhecera Jesus em vida, mas que O trazia em seu coração e sentia Sua presença inspirando-o.
“Éramos escravos das imposições pelos raciocínios, mas hoje somos livres pelo Evangelho do Cristo Jesus”, dizia Estêvão aos aleijados, idosos, órfãos e doentes presentes no recinto também humilde da Casa do Caminho.
Esse Jesus que atendendo as promessas dos profetas “veio até o antro de nossas dores amargas e justas, para iluminar a noite de nossas almas impenitentes”.
A solução de Jesus para os problemas da criatura humana é o amor que redime todos os seres e purifica os corações, livrando-os do mal. Moisés é comparado a uma porta, cuja chave é o próprio Cristo.
Como israelita obediente às leis de Moisés alerta seu povo dizendo: muitos de nossa raça hão esperado um príncipe dominador, que penetrasse em triunfo a cidade santa, com os troféus sangrentos de uma batalha de ruína e morte; que nos fizesse empunhar um cetro odioso de força e tirania.
O reino do Cristo é o da consciência reta e do coração purificado ao serviço de Deus.
Seus discípulos amados virão de todos os quadrantes. Fora de suas luzes haverá sempre tempestade para o viajor vacilante da Terra que, sem o Cristo, cairá vencido nas batalhas infrutuosas e destruidoras das melhores energias do coração. Somente o seu Evangelho confere paz e liberdade. É o tesouro do mundo. Nele os justos encontrarão triunfo, os infortunados o consolo, os tristes bom ânimo e os pecadores a senda redentora dos resgates misericordiosos.
Estêvão conclamava a todos a se banquetearem na mesa celestial, provar do alimento eterno da alegria e da vida, beber o néctar reconfortante da alma, diluído nos perfumes do amor imortal. “O Cristo é a substância da nossa liberdade”. O Evangelho é a resposta aos apelos dos que seguiam as Leis de Moisés. “Moisés é o condutor; Cristo, o Salvador”.
A multidão ficava embevecida com as palavras que saíam emolduradas pela sensibilidade de Estêvão, cheias de verdade e estímulo da fé, inspirada nos mais puros sentimentos. Os apóstolos viam nele a figura de Jesus lhes endereçando a palavra mais uma vez.
Os doutores do Sinédrio, estudiosos das Leis de Moisés nas sinagogas não admitiam a soberania de Jesus e questionavam: - Que dizer de um Salvador que não conseguiu salvar-se a si mesmo? Como não evitou a humilhação da sentença infamante? A que Estêvão respondia: - bem se dizia que o Mestre chegaria ao mundo para confusão de muitos em Israel. O Filho de Deus trouxe a luz da verdade aos homens, ensinando-lhes a misteriosa beleza da vida, com o seu engrandecimento pela renúncia. Sua glória resumiu-se em amar-nos, como Deus nos ama. Por isso Ele ainda não foi compreedido. Não é possível aguardar-se um Salvador de acordo com os nossos propósitos inferiores. E continua Estêvão, segundo Emmanuel:- Que dizer de um messias que empunhasse o cetro no mundo, disputando com os princípios da iniquidade um galardão de triunfos sangrentos! Jesus executou sua tarefa entre os mais simples ou mais desventurados, em que, muitas vezes, se encontram as manifestações do Pai, que educa, por meio da esperança insatisfeita e das dores que trabalham do berço ao túmulo, a existência humana. O exemplo do Cristo está projetado na alma humana, como luz eterna. O Mestre deixou-se imolar transmitindo-nos o exemplo da rendenção pelo amor mais puro.
Nesse capítulo do livro Emmanuel apresenta Jesus como o Salvador, o Messias prometido pelos profetas no Antigo Testamento e tão bem internalizado em Estêvão, que estudava, desde a sua infância os livros sagrados, como judeu que era, israelita da tribo de Issacar.
Os doutores da lei enciumados, querendo destruir aquele brilhante orador que os estava ofuscando denunciam-no injustamente e conseguem levá-lo ao Sinédrio para ser julgado.
Diz Emmanuel que o recinto ficou lotado pois tratava-se do primeiro embate entre os sacerdotes e os homens piedosos do “Caminho”. Personalidades importantes do farisaísmo e representantes de várias sinagogas compareceram ao evento.
Questionado sobre quem era maior se Moisés, o legislador ou o galileu carpinteiro, serenamente Estêvão responderia: - Moisés é a justiça pela revelação, mas o Cristo é o amor vivo e permanente.
Como verdadeiro cristão enfrentando todo o tribunal Estêvão continua: - não desdenho Moisés, mas não posso deixar de proclamar a superioridade de Jesus Cristo. Podeis proferir anátemas contra mim; entretanto, é necessário que alguém coopere com o Salvador no restabelecimento da verdade acima de tudo. Aqui estou para fazê-lo e saberei pagar, pelo Mestre, o preço da mais pura fidelidade. O Profeta nazareno, com sua grandeza veio ao encontro de nossas ruínas morais, levantando-nos para Deus com o seu Evangelho de redenção. Mais enfático ainda, continuou: - aquele a quem chamais, ironicamente, o carpinteiro de Nazaré, foi amigo de todos os infelizes. Sua pregação não se limitou a expor princípios filosóficos. Antes, pela exemplificação, renovou nossos hábitos, reformou as ideias mais elevadas, com o selo do amor divino. Seu coração repartiu-se entre todos os homens, dentro do novo entendimento do amor que nos trouxe com o exemplo mais puro.
Profundamente ofendidos e sentindo-se inferiorizados pela brilhante exposição de um rapaz simples, do povo e tão sereno, os fariseus romperam em algazarras e gesticulavam com o propósito de atenuar a forte impressão causada pela fala de Estêvão e gritavam: - anátema! Apedrejamento já! Matemos a calúnia!
E a sentença não tardou: - analisando a peça condenatória e, considerando os graves insultos aqui apresentados, como juiz da causa rogo seja o réu lapidado.
No instante da execução foi questionado se estaria disposto a negar o carpinteiro nazaremo como o Messias, e o juiz teve como resposta de Estêvão: - Nada no mundo me fará renunciar à sua tutela divina! Morrer por Jesus significa uma glória, quando sabemos que Ele se imolou na cruz pela Humanidade inteira!
Apesar de toda agressividade da cena, relata Emmanuel que Estêvão mantinha uma paz espiritual desconhecida, porque todos aqueles sofrimentos pelos quais estava passando eram pelo Cristo. O olhar estava sereno, firme e destemido. Intimamente repetia o salmo 23 de Davi. As expressões dos Escritos Sagrados estavam-lhe no âmago do coração. Em seu último momento ainda teve forças para olhar para seu algoz e dizer ao Alto: - Senhor, não lhe imputes este pecado! Um último ato de indulgência.

Nesse instante o Espírito Estêvão sentia a presença do próprio Mestre Jesus e ouvia um coro de anjos cantando hosanas ao Senhor. O discípulo do Evangelho desfalecia na carne e resplandecia na espiritualidade junto aos Espíritos luminosos do Senhor. A semente estava plantada, regada com sangue e verdade, restava agora aguardar seu florescimento nos diferentes cantos da Terra.
REFERÊNCIAS:
DIAS, Haroldo D. O novo testamento trad. Haroldo Dutra Dias Brasília, DF:FEB, 2013.
XAVIER, F. C. (Emmanuel)Paulo e Estêvão: episódios históricos do Cristianismo primitivo 45. ed. Brasília, DF: FEB, 2017.
ZIBORDI, Ciro S. Estêvão o primeiro apologista do evangelho Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
 
 
 
 

 


ESTÊVÃO

A história de Estêvão no Evangelho começa com um diálogo entre os discípulos de Jesus que continuaram seu trabalho atendendo aos mais necess...