SOMBRA E LUZ
Tu, porém, quando deres dádiva,
não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita. (Mt 6:3)
ESTUDANDO O BEM E O MAL
Para que sejamos intérpretes
genuínos do bem, não basta desculpar o mal.
É imprescindível nos
despreocupemos dele, em sentido absoluto, relegando-o à condição de efêmero
acessório do triunfo real das Leis que nos regem.
Evitando comentários complexos em
nosso culto à simplicidade, recorramos à natureza.
Vejamos, por exemplo, o apelo
vivo da fonte.
Quantas vezes terá sido injuriada
a água que hoje nos serve à mesa?
Do manancial ao vaso limpo,
difícil trajetória cumulou-a de vicissitudes e provações.
O leito duro de pedra e areia...
A baba venenosa dos répteis...
O insulto dos animais de grande
porte...
O enxurro dos temporais...
Os detritos que lhe foram
arrojados ao seio...
A fonte, entretanto, caminhou
despretensiosa, sem demorar-se em qualquer consideração aos sarcasmos da senda,
até surpreender-nos, diligente e pura, aceitando o filtro que lhe apura as
condições, a fim de que nos assegure saciedade e conforto.
Segundo observamos, na lição
aparentemente infantil, o ribeiro não somente olvidou as ofensas que lhe foram
precipitadas à face.
Movimentou-se, avançou,
humilhou-se para auxiliar e perdoou infinitamente, sem
imobilizar-se um minuto, porque a
imobilidade para ele constituiria adesão ao charco, no qual, ao invés de
servir, converter-se-ia tão só em veículo de corrução.
É por isso que o ensinamento
cristão da caridade envolve o completo esquecimento de todo mal.
“Que a vossa mão esquerda ignore
o bem praticado pela direita.”
Semelhantes palavras do Senhor
induzem-nos a jornadear na Terra, exaltando o bem, por todos os meios ao nosso
alcance, com integral despreocupação de tudo o que represente vaidade nossa ou
incompreensão dos outros, de vez que em qualquer boa dádiva somente a Deus se
atribui a procedência.
Procurando a nossa posição de
servidores fiéis da regeneração do mundo, a começar de nós mesmos, pela
renovação dos nossos hábitos e impulsos, olvidemos a sombra e busquemos a luz,
cada dia, conscientes de que qualquer pausa mais longa na apreciação dos
quadros menos dignos que ainda nos cercam será nossa provável indução ao
estacionamento indeterminado no cárcere do desequilíbrio e do sofrimento.
Emmanuel
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