terça-feira, 5 de maio de 2020

Anda com Fé!


“Será bastante que eu toque o seu manto e ficarei curada”. Jesus, voltando-se e vendo-a, disse-lhe:” Ânimo, minha filha, tua fé te salvou”. Desde aquele momento, a mulher foi salva. (Mt 9:21, 22)
Pois em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará, e nada vos será impossível. (Mt 17:20)
Fé. Que força é essa capaz de curar doenças e de transportar montanhas? E se essa força está no ser humano, por que é tão pouco praticada para mudar o mundo?
Com a palavra, o Sr. Allan Kardec:
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo Kardec dedica um capítulo inteiro, o XIX, para discorrer sobre o assunto. Segundo o autor, “a fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes.”
E continua:
“A fé significa a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha com absoluta segurança”.
O pedagogo francês vai explicar, racionalmente, como a força da fé atua, acrescentando a questão do fluido cósmico universal, substância que a tudo preenche no universo:
“O poder da fé se demonstra na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível. Daí decorre que aquele que a um grande poder fluídico normal junta ardente fé, pode, só pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos antigamente como prodígios, mas que não passam de efeito de uma lei natural”.
Kardec esclarece também que essa fé precisa ser desenvolvida, conquistada em cada existência:
“Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram. As primeiras já creram e compreenderam; trazem, ao renascerem, a educação feita; as segundas tudo têm a aprender: estão com a educação por fazer”.
Ainda nesse mesmo capítulo XIX o Espírito José vai explicar que a “fé tem de ser ativa”; “a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem”; “é a base da regeneração”; “a fé sincera é empolgante e contagiosa”;  e adverte que não se deve admitir a fé sem comprovação: “amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas”.
Um outro Espírito complementa dizendo:  
“A fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e se quisessem por a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas”.
Emmanuel, o benfeitor de Chico Xavier, se expressa poeticamente em seu livro Pensamento e Vida, cap. 6, sobre a fé:
“É força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus que é a Sabedoria da própria vida. Palpita em todos os seres, vibra em todas as coisas. Mostra-se no cristal fraturado que se recompõe, humilde, e revela-se na árvore decepada que se refaz, gradativamente, entregando-se às leis de renovação que abarcam a natureza”.
Cabe a cada um seguir na vida com o espelho da mente voltado para o bem. A ação no bem, com fé no porvir, torna as pessoas mais belas, úteis e com vontade de viver e servir mais e mais. Aprendendo com o cristal, que só é belo porque se deixa transpassar pela luz, como afirmou o professor Regis de Morais “quem opta pela opacidade não pode, como o cristal, enriquecer a luz que o atravessa”.
Emmanuel em outro livro (Palavras da vida eterna) apresenta no capítulo 162 a seguinte orientação: “bastas  vezes, as dificuldades na concretização de um projeto elevado se nos afiguram inamovíveis (...) há circunstâncias, nas quais o problema com que somos defrontados, numa questão construtiva, é julgado insolúvel (...). Mas Deus interfere e desponta uma luz. Por mais áspera a crise, por maior a consternação, não percas o otimismo e trabalha, confiante.
Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Franco, em seu livro O Homem Integral explica o porquê de muitos perderem a fé atualmente:
Em relação ao comportamento humano “adota-se uma fórmula religiosa sem que se viva de forma equânime dentro dos cânones da religião. É a experiência da religião sem religiosidade, da aparência social (...). o conceito de Deus se perde na complexidade das fórmulas vazias do culto externo, e a manifestação da fé íntima desaparece diante das expressões ruidosas, destituídas dos componentes espirituais da meditação, da reflexão, da entrega. Disso resulta uma vida esvaziada de esperança, sem convicção de profundidade, sem natureza espiritual.
A palavra fé, tanto diz respeito ao acreditar, de acordo com a etimologia grega pisti, quanto o se entregar, ser fiel, obedecendo ao significado etimológico latino “fides” (fidelidade). Acreditar e se entregar, esse o significado da fé, que deve ser colocado em prática.
Com o advento do Iluminismo no século XVIII, o homem lutou para se libertar da fé dogmática, imposta pela religião, voltando-se para a razão, com a  esperança na ciência iniciante, que lhe prometia dar todas as repostas para as situações da vida. Porém, embora a ciência venha evoluindo ao longo dos séculos, não consegue responder a todas as questões, frustrando o homem e lhe fazendo perder a fé.
A fé transcende a matéria e a ciência, é inerente ao Espírito em ascensão, em evolução moral.
Sem fé em algo maior, em uma força superior, a força do Amor exemplificada por Jesus, fica difícil viver. Regis de Morais afirma que “estamos morrendo de inanição por falta do sagrado”. Morre-se pouco a pouco, à medida em que a fé se esvai, como uma chama que aos poucos vai se apagando e, ao se apagar, vem o frio, a escuridão, o abandono, o medo.
Na situação em que se encontra o mundo, perder a fé é perder a única tábua de salvação em meio a um oceano de dúvidas, frente à invasão desse invisível ser que está modificando hábitos, reacendendo esperanças, e desvelando caráter.
É preciso lembrar dos primeiros mártires cristãos que entravam na arena cantando, como prova de fé, e caminhar na vida com essa mesma canção de fé, esperança e praticando a caridade sempre. 
REFERÊNCIA
BÍBLIA DE JERUSALÉM São Paulo: Paulus, 2012.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo 131 ed. Trad. Guillon Ribeiro Brasília, DF: FEB, 2013.
FRANCO, D. P. (Joanna de Ângelis) O Homem Integral 23. ed. Salvador, BA:LEAL, 2018 (Série Psicológica, vol. 2).
MORAIS, R. Espiritualidade e Educação Campinas, SP: Centro Espírita Allan Kardec, 2002.
XAVIER, F. C. (Emmanuel) Pensamento e Vida 19. ed. Brasília, DF: FEB, 2017
______________________ Palavras da Vida Eterna 40. ed. Brasília, DF: FEB, 2017a





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