segunda-feira, 23 de março de 2020

E o bem? Deixa para depois...



É comum ouvir dizer que a vida é eterna, e, cada existência, breve. No entanto, dependendo da atividade, esta parece longa e cansativa, principalmente se está relacionada ao trabalho no bem, ao servir o outro.
Talvez seja pelo fato de se habitar um mundo pouco evoluído e o bem parecer um fardo, um favor, uma penitência. Cansa-se muito fácil e qualquer apelo material é motivo para deixar de se realizar uma função, uma tarefa, uma causa, um cuidado.
Tanto é verdade que o benfeitor Emmanuel no livro Vinha de Luz, sob a psicografia de Chico Xavier, apresenta uma explicação de uma passagem evangélica (Mc 4:17) com o título “Depois”, em que elucida alguns comportamentos humanos.
Em determinado trecho, o autor espiritual lembra que há pessoas que aceitam o braço de um benfeitor, com alegria, manifestações de júbilo, mas, depois... quando desaparece a necessidade, surgem queixas descabidas e mesmo a ingratidão e a indiferença, costumando-se dizer: - “ele não é tão bom quanto parece”.
Em relação aos profitentes de alguma religião o que geralmente acontece, segundo Emmanuel, é que se começa uma tarefa caritativa com grande entusiasmo, contudo, depois... ao surgirem os primeiros espinhos, proclama-se a falência da fé, e chegam a dizer: “não vale a pena”.
Em se tratando de tarefa espírita já disse o grande expoente Raul Teixeira de Niterói, RJ: espiritismo não é para quem quer, é para quem aguenta.
Quando se é neófito no Espiritismo e começa-se a ler os livros luminosos da codificação e de Chico Xavier, principalmente, nasce um estímulo, que vem do alto, despertando o bem que dormita em cada ser, no entanto, depois...ao se perceber a exigência da disciplina e até um certo sacrifício para se alcançar a tão sonhada iluminação espiritual; quando se percebe que não é possível virar um Chico Xavier ou um Emmanuel da noite para o dia, ouve-se a reclamação: “assim também, não”.
Em outra ocasião é possível ajudar um companheiro na estrada, com extremado carinho, atenção e desvelo até que depois...se não há retorno imediato do que se está plantando, é possível ouvir: “não posso mais”.
Nessa hora é que se costuma por fim ao trabalho no bem, com o cansaço, o desânimo, a falta de hábito de ser para o outro, por falta da verdadeira implantação do bem no coração de quem deseja praticá-lo. Perde-se uma grande oportunidade e o indivíduo volta-se contra si mesmo. Em outra mensagem de Emmanuel no livro Caminho, Verdade e Vida ele assevera: “o serviço de Jesus é infinito”.
Infinito significa sem fim, ou seja, o trabalho no bem não deve terminar nunca, por isso não se deve cansar, entediar e, principalmente, desistir. Faz-se mister acostumar-se com o bem, para que um dia ele seja um processo natural em cada ser humano.
E reforça Emmanuel: Todos sabem principiar o ministério do bem, poucos prosseguem na lide salvadora, raríssimos terminam a tarefa edificante.
É realmente preocupante saber que muitos começam, poucos dão continuidade e somente alguns conseguem terminar.
Mensagem similar encontra-se em o livro Os Mensageiros, psicografado por Chico Xavier, quando o Espírito André Luiz ouve de Tobias, um dos trabalhadores de Nosso Lar, que o Centro de Mensageiros, localizado no Ministério das Comunicações da colônia, organiza turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. De lá partem milhares de Espíritos aptos ao serviço no bem, mas raros são os que triunfam.
E o Espírito Tobias prossegue: raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a extenso pretérito de erros criminosos que nos deformaram a personalidade. E adverte: em cada novo ciclo de empreendimentos carnais, acreditamos muito mais em nossas tendências inferiores do passado que nas possibilidades divinas do presente, complicando sempre o futuro.
Esse comportamento, segundo Tobias, faz com que se agarre ao mal e se esqueça do bem, interpretando a dificuldade como punição e não como oportunidade preciosa para os que já entendem a vida além da vida, além da matéria.
Voltando às considerações de Emmanuel, este continua sua análise dizendo que, quando se trata de desejos materiais, relacionados às paixões terrenas, com perigosas consequências para si mesmo, é possível uma realização rápida e sem reclamação, alcançando o fim desejado, a qualquer custo.
Facilmente se inicia uma discórdia, rapidamente se lança a uma desarmonia no ambiente, fácil dirigir palavras ferinas àqueles com os quais convive, assim como desrespeitar regras de bem viver, de trânsito, éticas.
O autor espiritual Emmanuel conclui suas observações com ar de lamento: é muito difícil perseverar no bem e sempre fácil atingir o mal. Todavia, depois...
REFERÊNCIA:
XAVIER, F. C. (Emmanuel) Caminho, Verdade e Vida 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994.
____________ (André Luiz) Os Mensageiros 47. ed. Brasília, D.F.: FEB, 2013
____________ (Emmanuel) Vinha de Luz Brasília, D.F.: FEB, 2014.




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